segunda-feira, 27 de abril de 2009

RONALDO: DE FENÔMENO A LENDA VIVA

O esporte é pródigo em propiciar dramas humanos impressionantes, como o que está hoje no noticiário: a incrível ressurreição de Ronaldo Fenômeno.

Ele tem uma trajetória marcada por altos (estratosféricos) e baixos (abissais).

Vinha numa fulgurante carreira, incluindo uma Copa do Mundo conquistada como reserva (1994), quando teve convulsões à véspera da decisão do Mundial seguinte e acabou levando a culpa pela derrota brasileira diante da França.

A via crucis prosseguiu com uma sucessão de contusões graves, tornando totalmente insensata a aposta do técnico Felipão de apostar nele como titular para a Copa de 2002.

Magicamente, aquelas poucas semanas foram um breve hiato em suas desventuras: não só teve participação das mais destacadas, como fez os dois gols da partida final contra a Alemanha.

Em seguida, voltaram as contusões, acrescidas de confusões matrimoniais e pessoais, como o episódio da noitada com travestis. Obeso, desmotivado, parecia ter chegado ao fundo do poço.

Como Felipão, o Corinthians apostou em Ronaldo contra todas as evidências. E parecia ter queimado dinheiro quando o jogador teve outra noitada de loucuras, desta vez acompanhando a delegação que foi a Presidente Prudente disputar uma partida pelo Campeonato Paulista.

Depois do fuzuê num bordel, chegou até a tomar um táxi para desertar da cidade e do clube. Mas, mudou de idéia no caminho, mandou o motorista dar meia-volta e apresentou-se para o treino, umas seis horas atrasado...

A redenção começou na partida contra o Palmeiras, quando entrou em campo na metade do segundo tempo e surpreendeu a todos com três lances agudos: um chute de longe no travessão, um centro perfeito para a cabeçada de um companheiro (o goleiro evitou o gol) e o tento de empate no finzinho dos acréscimos.

No primeiro tempo, no banco de reservas, Ronaldo foi focalizado pela tevê logo após o arqueiro palmeirense ter falhado ao tentar interceptar um cruzamento. Ele comentou algo com quem estava ao lado, dando um sorriso.

Quando a partida estava para terminar, houve um escanteio e ele se colocou na segunda trave, exatamente onde a bola chegaria caso fosse cruzada pelo alto e o goleiro falhasse. A possibilidade desenhada na sua mente virou realidade, como se os deuses dos estádios estivessem de plantão para atender seus desejos.

Depois, na semifinal contra o São Paulo, novamente a magia se fez presente: entrou em campo determinado a calar a boca do diretor de futebol adversário que se referira desdenhosamente a ele como ex-jogador.

E conseguiu: um passe longo e perfeito de Ronaldo desmontou a defesa tricolor e deu origem ao primeiro gol. Logo em seguida, com um pique impressionante para um atleta acima do peso, já entrado nos anos e que sofreu contusões muito sérias, ele deixou o zagueiro para trás e fez um tento inacreditável.

Agora, na decisão contra o Santos, atingiu o ápice em seu novo estilo minimalista: participa pouquíssimo do jogo, mas aparece sempre de forma letal.

Primeiramente pegou um espirrão do meio de campo e, com uma matada de bola perfeita, colocou a bola na medida para fazer um disparo certeiro.

Depois, a apoteose: percebendo desde o primeiro tempo que o goleiro adversário adiantava-se muito, teve, finalmente a oportunidade para aproveitar o vacilo, ao receber a bola num contra-ataque, dar um drible desmoralizante no marcador e desferir uma folha seca digna do velho Didi.

Ao renascer novamente das cinzas, ele está escrevendo uma página lendária na história do futebol.

MUHAMMAD ALI E GARRY KASPAROV - Sempre fui fascinado por esses dramas humanos do esporte. Duas situações, em especial, me atraem muito: os grandes veteranos em busca de um canto do cisne à altura e o rito de passagem (momento de afirmação) dos jovens talentos.

Na primeira categoria, claro, a principal proeza foi a vitória de Muhammad Ali sobre George Foreman na maior luta de boxe de todos os tempos.

Depois de passar anos fora dos ringues em razão da injusta pena que recebeu da máfia do pugilismo por se recusar a vestir a farda dos EUA na Guerra do Vietnã, teve de enfrentar um campeão jovem e poderosíssimo.

A apreensão generalizada era de que Ali, além de derrotado, sairia morto do ringue. Mas, com uma força de vontade incomum e um discernimento mais raro ainda entre boxeadores, encontrou a tática capaz de fazer Davi vencer Golias: deixar-se golpear nas cordas por intermináveis assaltos, confiando na sua guarda e esperando o cansaço minar Foreman.

No oitavo round o gigante vacilou e Ali, com uma energia da qual ninguém o julgava ainda capaz, desferiu uma sequência fulminante de golpes em alta velocidade, fazendo Foreman desabar lentamente, como uma torre. Um momento épico.

Poucos notaram, entretanto, que o castigo contínuo a que Ali fora submetido lhe causou até um rápido desmaio durante a comemoração do triunfo. Talvez ele tenha sido o mais próximo que já vimos de um super-homem: um pugilista estilístico, que lutava de forma inteligente e artística mas, ao mesmo tempo, tinha extrema resistência à dor.

Certa vez sua mandíbula foi fraturada no 2º assalto por Ken Norton e, mesmo assim, ele resistiu até o final da luta, para perder apenas por pontos. Foi um assombro no mundo do boxe. Ali não só exibia um ego gigantesco, mas se mostrava sempre à altura do personagem que criara para si próprio...

Na categoria de rito de passagem, o mais exemplar foi o de Garry Kasparov. Ousado no xadrez e na vida, ele era visto como uma ovelha negra pelos trombas do regime soviético, pois não se prostrava à burocracia dominante.

Então, ao desafiar o conformista Anatoly Karpov pelo posto de nº 1 do xadrez mundial, os fatores esportivos e políticos se confundiram na disputa. Era um franco-atirador enfrentando o poderoso stablishment enxadrístico da URSS.

Burocrático no xadrez como na política, Karpov começou se defendendo bem e aproveitando os erros de Kasparov, que se lançava com volúpia ao ataque. Colocou 5 x 1 no marcador. Precisava só da sexta vitória para vencer o match.

Aí Kasparov resolveu responder na mesma moeda: retrancou o seu jogo e não correu mais risco nenhum. Deu-se, então, uma sequência infernal de empates, uns vinte, se bem me lembro.

O franzino Karpov tinha menos resistência física e mental: na 47ª partida começou a desmoronar. Perdeu essa e a seguinte. Como as regras não admitiam interrupção por decisão médica, só lhe restava entregar os pontos ou ir para o tabuleiro sofrer mais três derrotas. Estava inapelavelmente vencido.

Foi quando o presidente da federação, um filipino, anulou o match por "desumanidade". Decisão criticadíssima. E, quando nova disputa se travou a partir do zero, alguns meses depois, Kasparov, claro, massacrou Karpov.

Um enxadrista brasileiro (talvez Helder Câmara), comentando diariamente o match no Jornal da Tarde, avaliou: ao superar seu maior desafio, caminhando no fio da navalha, o menino Kasparov se tornara um homem. Perfeito.

Nos últimos anos, torci muito para que Andre Agassi e Zinedine Zidaine tivessem cantos do cisne fulgurantes; subi nas paredes quando uma maldita quebra do motor impediu Michael Schumacher de encerrar a carreira como campeão; e fiquei imensamente frustrado por Oscar Schmidt ter abandonado as quadras sem o reconhecimento oficial de que foi o maior cestinha de todos os tempos.

Agora, estou torcendo para Federer e Ronaldinho Gaúcho darem a volta por cima; para o menino Messi sair-se bem no seu rito de passagem, tornando-se um novo Maradona (falta a prova de fogo de uma Copa do Mundo); e para Ronaldo continuar escrevendo seu épico, ao qual acrescentou ontem um novo capítulo (gol de placa).

2 comentários:

Guilherme Zocchio disse...

E a luta para a volta ao campo não deixa de ser uma luta da vida!

Ronaldo - o Fenômeno - é um ser humano como eu e você. Nossas vitórias ao superar problemas e desafios são tão iguais e brilhantes; basta apenas dar-lhes o verdadeiro significado nas palavras, nas conversas, no que ficará gravado para sempre na história!

Sensacional! Ou melhor... FENOMENAL!

Unknown disse...

Ele fez mais do que muitos esperavam .. ELE o Ronaldo é e sempre foi o maior e melhor atacante que ja existiu nessa terra.. e nao foi a toaa .. ele conguistou milhoes de coraçoes do mundo inteiro com sua simpatia .. com talento .. o sorriso dele ja dizia o pq ele era herói .
pessoas assimm.. a gente nunca esquece..
nao respliquei tudoo.. e nem preciso.. pq todos sabem qem é o ronaldo .. e pra terminar ..
ronaldo nois o mundo inteiro te amamos .. obrigado pela alegria que nos fez .. sou mt grato .. vc sempre será o FENOMENOO..

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