sexta-feira, 28 de novembro de 2008

"MEUS PRINCÍPIOS E VALORES SÃO OS DA MINHA GERAÇÃO"

Comecei a lutar por ideais políticos em 1967; aprendi algumas coisinhas nessas quatro décadas.

Talvez a principal seja a seguinte: enquanto um revolucionário mantém a coerência com seus princípios e valores, tem força íntima para suportar qualquer injustiça.

Só não podemos, mesmo, trair aquilo em que acreditamos: de concessão em concessão, acabaremos perdendo o respeito por nós mesmos. E aí não existirá mais salvação.

Meus princípios e valores são os da minha geração. Servem-me até hoje como baliza.

Então, na eleição de 2006, defendi a posição de que tanto dava a vitória de Lula como a de Alckmin, pois eram dois candidatos do sistema. Isto me valeu uma avalanche de ataques na comunidade Botequim Socialista do Orkut. Como não tinha intenção de travar diálogos de surdos (as pessoas ignoravam minhas refutações e ficavam sempre batendo nas mesmas teclas), saí de lá.

Mas, não me senti nem um pouco abalado, pois, de acordo com as convicções da minha geração, eu estava certo.

Para nós, o que definia governos era sua política econômica; e, no caso, ambos os candidatos se mantinham firmemente ancorados no neoliberalismo.

Além disto, sempre fomos visceralmente contrários ao reformismo, às pequenas concessões que minoram o sofrimento das massas e as anestesiam, tangendo-as para a acomodação com o capitalismo.

O primeiro texto mais ambicioso que escrevi na minha vida política, em 1968, foi exatamente uma crítica que fiz a meus adversários no movimento secundarista, aplicando os conceitos expostos por Rosa Luxemburgo em Reforma ou Revolução. Defendi a posição do meu grupo como revolucionária e critiquei a dos rivais como reformista.

Ora, o que diferenciava Lula dos adversários tucanos eram tão-somente as migalhas que distribuía às massas, com programas tipo Bolsa-Família. Se isto sempre foi avaliado negativamente por mim, não havia motivo nenhum para eu considerar o primeiro como merecedor do voto útil.

Mais recentemente, tive o mesmo problema em dois grupos do Yahoo: o Eskuerra e O Quinto Poder. Desta vez, por não tomar partido pela Polícia Federal, contra Daniel Dantas. Acabei também saindo de ambos.

No entanto, havia seguido fielmente, de novo, os valores da minha geração:

1) Nunca estabelecemos distinções entre banqueiros.
Para quem acredita nos valores do sistema, Daniel Dantas é um banqueiro contraventor e o finado Olavo Setubal, p. ex., era um banqueiro honesto.
Para um revolucionário, tanto dá Dantas como Setúbal, pois não passam de baluartes da fase mais repulsiva do capitalismo, em que predomina o parasitário e inútil capital financeiro.
Banqueiros não passam dos agiotas modernos. Não é um que precisa ser tirado de cena, são todos.
Foi o raciocínio que aplicamos outrora, quando o jornal O Estado de S. Paulo fazia campanha contra "o mau patrão" J. J. Abdalla. Nós, da esquerda, contrapúnhamos que maus patrões eram todos os patrões. Se nos associássemos às criticas àquele patrão em particular, estaríamos concedendo que maus patrões seriam a exceção, e não a regra. Não entramos nessa.

2) Nunca apoiávamos a Polícia.
Víamos a repressão e seus agentes como antípodas da revolução. Serviam para manter o status quo. Nós vivíamos para revolucionar o status quo. Não havia nada que nos aproximasse, em circunstância nenhuma. Ponto final.
Nunca vocês me verão do mesmo lado da Abin (sucessora dos nossos inimigos do SNI) e da PF.

3) Aprendemos a prezar institutos como o habeas corpus e o asilo político, pois, nas situações mais agudas, podiam até significar a diferença entre a vida e a morte de um revolucionário.
Então, quando o juiz De Sanctis emitiu um segundo mandado de prisão para Dantas, avaliei que o fundamentel, para nós, era preservarmos a integridade do instituto do habeas corpus.
Durante a ditadura, os habeas corpus ainda puderam ser concedidos durante mais de quatro anos, até o momento em que o AI-5 os proibiu para casos de segurança nacional.
Salvaram muitos companheiros de torturas atrozes. E fizeram imensa falta depois de dezembro/1968, quando o terrorismo de estado atingiu seu ápice.
Mesmo entre 1964 e 1968, entretanto, os habeas corpus não eram integralmente respeitados. Às vezes a repressão ficava transferindo companheiros de delegacia para delegacia, de forma que o oficial de justiça nunca conseguia encontrá-los para fazer cumprir o HC.
Se a jogada do De Sanctis desse certo, corríamos o risco de ressuscitar essas práticas de avacalhação do HC, características de estado policial. Negativo. Era um preço alto demais para manter-se enjaulado Dantas por uns tempos (o que nada mudaria em essência, não passando de aparência).

4) Nós nos agrupávamos a partir das concordâncias estratégicas, tendo total direito de divergir nas questões táticas. A estratégia era fechada, mas a tática estava aberta a discussões.
Entrávamos no partido ou organização que defendia o caminho revolucionário em que acreditávamos (p. ex., os que críamos que a revolução seria socialista, militávamos em agrupamentos que colocavam o proletariado como o sujeito da revolução e fazíamos frentes com os agrupamentos afins, não colaborando com os agrupamentos que defendiam a revolução popular e, como consequência, buscavam alianças com a burguesia nacional e com os camponeses).
Os objetivos estratégicos eram divisores de água. Mas, os objetivos táticos podiam ser livremente discutidos dentro do respectivo agrupamento. Ninguém seria taxado de "burguês" apenas por discordar de algo secundário como o apoio que parte da esquerda deu ao Protógenes, De Sanctis e Lacerda. Nesse nível, podíamos divergir à vontade, sem que nossa condição de revolucionários fosse colocada em xeque.

Acredito que, tanto em relação a Lula quanto à Operação Satiagraha, a evolução dos acontecimentos provou que eu estava certo.

Ninguém está imune a incompreensões. Mas, quem sempre defende seus princípios -- os MESMOS princípios, em toda e qualquer circunstância -- acaba conquistando o respeito das pessoas sérias.

Um caso lapidar foi o da deportação forçada dos pugilistas cubanos. Desde o primeiro momento eu afirmei que havia sido um erro, mesmo que os prejudicados fossem pessoas sem grande valor comos seres humanos (dois mercenários). O PRECEDENTE aberto, entretanto, acabaria sendo usado contra nós e prejudicando companheiros realmente importantes para nossa causa.

Agora, aquele episódio está servindo de argumento para os que defendem a entrega de Cesare Battisti à Justiça italiana. Os reacionários cobram a repetição da mesma postura por parte do Governo brasileiro.

Eu tenho moral para defender uma solução favorável a Battisti, pois não compactuei com a agressão que o Governo Lula cometeu contra o direito de asilo. O Suplicy, idem. E poucos mais.

Já os esquerdistas que colocaram uma conveniência momentânea à frente de valores maiores não têm uma resposta consistente para dar, agora que os fascistas os estão chamando de hipócritas.

Obs.: trechos de resposta que dei num grupo de discussão virtual. Como acabou se tornando uma espécie de profissão de fé, resolvi postar aqui.

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails