terça-feira, 21 de outubro de 2008

ARENA DE GLADIADORES DO CAPITALISMO PUTREFATO

Um ex-cunhado meu foi economiário durante toda sua trajetória profissional. Entrou office-boy e acabou gerente.

Certa vez me contou que, quando sua agência era assaltada, a maior preocupação dos funcionários era apressarem os bandidos, para que dessem o fora com a grana antes da chegada da polícia: sabiam que os brucutus da lei mandariam bala para todo lado, sem consideração pela vida deles e dos clientes.

E eu fiquei conhecendo o Massacre do Carandiru em detalhes, porque trabalhava na Imprensa do Palácio dos Bandeirantes quando o episódio ocorreu.

A soldadesca atirou porque estava apavorada com a fumaça, gritaria e confusão. Então, por despreparo, descarregou o medo no gatilho.

O coronel Ubiratan, coitado, nada pôde nem poderia fazer para controlar a tropa (o grande culpado foi o governador Fleury, que ordenou uma invasão desnecessária para exibir seu muque, depois convenceu o secretário da Segurança Pública a segurar o rojão). Oficial que se colocasse entre os matadores fardados e seus alvos acabaria recebendo bala também.

É o que já aconteceu um sem-número de vezes nas guerras. Na do Vietnã, p. ex., havia mais oficiais estadunidenses mortos pelo fogo amigo do que pelos disparos do inimigo...

Então, nada há a estranhar em que a ação policial em Santo André tenha sido uma comédia de erros com final trágico.

Mesmo assim, a polícia tem uma atenuante: incompetência não é crime.

Já os abutres da imprensa não têm nenhuma. Passaram o tempo todo capitalizando um drama em benefício próprio, para saciar a bisbilhotice doentia de seu público.

Não se preocuparam em momento algum com a vida dos patéticos personagens alçados a atração momentânea da arena de gladiadores do capitalismo putrefato.

Comprovaram que a ética do jornalismo foi levada de roldão pela competição e ganância. Está tão morta quanto a tal Eloá.

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