quarta-feira, 24 de setembro de 2008

HOMENAGEM AOS CLÁSSICOS DO WESTERN: "THE GOOD, THE BAD AND THE UGLY"

Em 1966 o grande cineasta italiano Sergio Leone dirigiu sua primeira obra-prima, The Good, The Bad and The Ugly, que aqui recebeu o nome de Três Homens em Conflito. Foi quando definiu seu estilo, embutindo no cinema de ação discussões mais profundas (no caso, sobre o horror da guerra), sem prejuízo do entretenimento propriamente dito. De acordo com sua sensibilidade, o espectador podia se divertir apenas com o básico ou captar os muitos toques subjacentes.

Por espírito lúdico, fiquei elocubrando sobre quais personagens atuais caberiam nos papéis de Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach. E o que saiu publicado nos jornais da manhã de hoje (24) me mostrou o caminho das pedras.

O BOM: ALCKMIN, O BEBÊ CHORÃO - Campanha para burgomestre é um tédio só. Tenho evitado comentá-la, pois a grande imprensa já lhe concede um espaço totalmente desproporcional à sua importância. Em qualquer jornal que eu dirigisse, nunca ocuparia mais de uma página diária. E olhe lá.

Mas, não resisto a registrar que, mais uma vez, Geraldo Alckmin se mostrou de uma puerilidade constrangedora, ao pretender atingir o candidato com quem disputa uma vaga no 2º turno.

Sabatinado pela Folha de S. Paulo, choramingou: "Kassab é dissimulado. Ele usa as pessoas. Sua estratégia é desconstruir o PSDB de São Paulo para se promover". Só faltou dizer que o outro roubava pirulito de criancinhas...

Alckmin já mostrou o quanto valia em 2002.

Sequestrado por Fernando Dutra Pinto, o animador Sílvio Santos passou a conversa no bandido, convencendo-o a requisitar a presença do então governador de São Paulo. Qualquer político menos poltrão agradeceria aos céus a oportunidade para posar de herói, negociando a libertação de SS.

Alckmin demorou uma eternidade até criar coragem para fazer o que o momento exigia e era o melhor para si. Finalmente foi lá e deu garantia de vida a Dutra Pinto, caso ele soltasse o refém e se rendesse.

Esqueceu de avisar a polícia: o bandido foi logo assassinado dentro da prisão.

O MAU: BRILHANTE USTRA, O FUJÃO - Por dois votos contra um, o Tribunal de Justiça de São Paulo extinguiu o processo movido contra Carlos Alberto Brilhante Ustra pela família do Jornalista Luiz Eduardo Merlino, assassinado em 1971 no centro de torturas por ele comandado, o DOI-Codi de São Paulo.

Os três desembargadores ressaltaram que não estavam emitindo um juízo de valor sobre os atos cometidos por Ustra, mesmo porque o mérito da questão não chegou a ser por eles apreciado.

A defesa utilizou uma filigrana jurídica para evitar que o caso seguisse até Ustra ser declarado torturador ou inocentado dessa acusação: questionou a participação no processo da ex-companheira de Merlino, Angela Maria de Almeida, alegando que a união estável entre ambos não ficou comprovada.

Ao votarem pela extinção do processo, os dois desembargadores acataram a impugnação de Angela como parte. E acrescentaram que, de qualquer forma, uma ação civil declaratória não seria o meio processual adequado para o escopo dos acusadores.

Salta aos olhos, entretanto, que a defesa de Ustra só recorreu a esse agravo de instrumento por não confiar nas chances de absolvição de seu cliente.

Assim, depois de passar anos e anos alegando inocência nas declarações que deu à imprensa, nos livros que escreveu e no site que mantém, Ustra teve, finalmente, a oportunidade para provar que era um injustiçado. Preferiu sair pela tangente, com o rabo entre as pernas.

O FEIO: DELFIM NETTO, O ENROLADOR - Delfim Netto, ministro dos governos mais truculentos que o Brasil já teve e um dos signatários do infame AI-5, explica assim a versão 2008 das crises cíclicas do capitalismo ("Fiducia", Folha de S. Paulo, 24/09/2008):

"Todo o maravilhoso mecanismo de coordenação que os homens descobriram e a economia política aperfeiçoou, que são os 'mercados', repousa sobre um ingrediente catalítico invisível: a confiança...

"Quando, por qualquer motivo, se destrói a 'confiança' entre os participantes do mercado, desaparece instantaneamente a trama invisível de coordenação produzida por ela...

"Foi isso o que aconteceu com a crise que se convencionou chamar 'dos subprimes'...

"...a confiança do (...) poupador foi traída pelo (...) sistema financeiro, que lhe garantia ter 'modelos' científicos para estimar retornos e riscos na aplicação de suas poupanças. Usando uma complicada alquimia e expedientes contábeis, construiu-se, sob os olhos fechados e o nariz insensível dos bancos centrais, uma pirâmide de papel que se queimaria ao menor sintoma da falta de confiança. Não houve nem o controle da moralidade implícita no 'espectador imparcial' nem a explícita imposta pelos bancos centrais."

Pelo menos uma vez concordo com o Delfim: o capitalismo é isso mesmo, espertalhões utilizando expedientes imorais para, abusando de sua confiança, depenar os otários gananciosos.

Só não dá para aceitar quando ele qualifica os mercados que facultam tais práticas de "maravilhoso mecanismo de coordenação".

Aí ele está repetindo os contorcionismos retóricos que utilizava para justificar a aceitação de boquinhas em governos estatizantes, embora professasse convicções liberais...

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