sexta-feira, 29 de agosto de 2008

TORTURADORES NA ALÇA DE MIRA

A movimentação dos notáveis é ampla, no sentido de que sejam finalmente processados os torturadores do período 1964/85.

Direcionam-se todos para a brecha apontada pelo ministro da Justiça: já que nossos pusilâmines Executivo e Legislativo não querem nem ouvir falar na revogação da Lei de Anistia de 1979, o jeito é responsabilizar os verdugos paus-mandados por crimes comuns e esquecer os mandantes dos verdugos, já que, supostamente, teriam cometido apenas crimes políticos.

Enquanto isso, na Argentina até general pega prisão perpétua.

Também tenho, claro, minha lista de torturadores que gostaria de ver atrás das grades: o tenente Ailton Joaquim e o cabo Polvorelli, da PE da Vila Militar; e uma equipe do DOI-Codi/RJ (o tenebroso quartel da rua Barão de Mesquita, na Tijuca, RJ), cujos integrantes até hoje desconheço, pois usavam codinomes como "Magafa".

Aos dois primeiros, devo quase quatro décadas de má audição e eventuais ataques de labirintite. Aos três últimos (major, capitão e tenente), lembranças atrozes e o fato de haver escapado por pouco de um enfarte aos 19 anos de idade.

Mesmo assim, sempre detestei mais os analistas: aqueles oficiais superiores engomadinhos que avaliavam as informações arrancadas (ou não) de nós nos paus-de-arara, teciam conjeturas, montavam quadros gerais, apontavam aos torturadores quais outras informações deveriam buscar.

Das bestas-feras só poderíamos esperar que se comportassem como bestas-feras.

Mas, eu ficava enojado ao ver pessoas evidentemente cultas, presumivelmente civilizadas, serem as responsáveis últimas pelos horrores a que estávamos sendo submetidos. As bestas-feras somente obedeciam ao comando desses analistas.

Então, serei solidário com todas as iniciativas do Ivan Seixas e de outros valorosos companheiros que lutam para colocar os Ustras e Curiós atrás das grades.

Mas, só vou ficar realmente entusiasmado e considerarei que está sendo feita justiça quando os engomadinhos também pagarem, começando pelos signatários do AI-5, que deram sinal verde para todas as atrocidades cometidas.

Se me fosse dado escolher, eu preferiria ver punidos dois desses signatários (o Jarbas Passarinho e o Delfim Netto) do que o Ustra e o Curió.

Pelo simples fato de que os dois primeiros sabiam exatamente o que estavam fazendo, enquanto os dois últimos não passavam de indivíduos tacanhos que acreditavam ser esse seu dever patriótico ou queriam tirar vantagem da situação.

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