terça-feira, 12 de agosto de 2008

É SIMPLES ASSIM. É SÓRDIDO ASSIM

Lula enquadra Tarso, que vem a público dizer que o Poder Executivo nada tem a declarar sobre a Lei da Anistia de 1979. Ou seja, o que ele fez na audiência pública que convocou com toda a pompa e circunstância foi, apenas, colocar um abacaxi no colo do Judiciário, a quem caberá descascá-lo ou não.

Detesto injustiças e abomino as tibiezas. Estou enojado deste país em que os poderosos nunca respondem pelas consequências de seus atos. As torturas e execuções da ditadura foram uma política de Estado implementada covardemente por baixo dos panos. Em nada me consola ver os meros executores na berlinda e os mandantes numa boa.

Tarso quer punições. Lula quer que Tarso deixe o Exército em paz.

O jeito será manter-se intacta a Lei da Anistia, que garantiu impunidade para todos os que cometeram crimes ditos políticos durante a ditadura de 1964/85. Como, p. ex., os signatários do AI-5, que, com uma única assinatura, deram sinal verde para todas as atrocidades perpetradas pelos agentes do Estado durante os anos de chumbo.

Mas, para não sair com o rabo entre as pernas, Tarso recorre a uma tese oportunista: alegar que a repressão era lícita, mas a tortura não. Então, quem torturou deve responder por isso, como acusado de crime comum.

Engraçado, isto é o contrário do que a esquerda sempre alegou. Como esperamos ser respeitados, dando demonstrações tão evidentes de incoerência?

Quem torturou poderá trazer quantos figurões forem necessários para confirmar que ele cumpria ordens. Caso do Brilhante Ustra, que, noticiou-se, terá como testemunhas de defesa o ex-presidente José Sarney e o senador Romeu Tuma.

E, como os mandantes não podem ser alcançados, ninguém acabará sendo punido. É simples assim. É sórdido assim.

Colocação exemplar do Plínio de Arruda Sampaio: se era para governar o País exatamente como os partidos burgueses fazem, a serviço dos banqueiros e dos grandes empresários, melhor seria o PT nem ter chegado à Presidência da República.

Da mesma forma, eu digo: se o preço da punição do Brilhante Ustra é darmos um atestado de inocência para todos os seus superiores, melhor deixá-lo impune. O fedor será menor.

2 comentários:

ismar disse...

Olá, Amigo Celso.

Só espero que esta celeujma toda em torno da tal Lei de Anistia não sirva para desestabilizar a nossa frágil democracia.

Grande abraço.

Parabéns ao blog e aos posts.

Éder Milani disse...

Celso,

essa questão do PT me intriga e irrita.
Por anos acreditei e todos acreditaram que um dia chegaria a hora de um partido com bases sociais, governar o país.

Hoje, olho para trás, e olha que nem é tanto tempo assim, e vejo a realidade que via antes.
A incoerência de se agir exatamente da mesma forma que era fervorosamente combatida no passado.

Isso me leva a crer que eles estão posicionados de acordo com o lado do balcão que estão.

Triste realidade.

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