domingo, 12 de junho de 2016

SE OS SENADORES ENDOIDAREM, O BRASIL VIRARÁ O PAÍS DA FUZARCA.

Por Bernardo Mello Franco
VOLTAR PARA QUÊ?
Neste domingo (12), completa-se um mês desde que Dilma Rousseff assinou a notificação do impeachment, deixou o Palácio do Planalto e se recolheu ao Alvorada. Na temporada de exílio, ela criticou o substituto e prometeu lutar para voltar à Presidência. Faltou responder a uma pergunta: voltar para quê?

Dilma deve uma explicação sobre o que pretende fazer na hipótese, por ora improvável, de o Senado revogar o seu afastamento. Na noite de quinta-feira, surgiu uma pista. Na entrevista à TV Brasil, ela indicou que convocaria um plebiscito sobre a realização de novas eleições.

"A consulta popular é o único meio de lavar e enxaguar essa lambança que está sendo o governo Temer", disse. "Eu acho que pode ser um plebiscito de alguma forma. Eu não vou aqui dar o menu total, mas essa é uma coisa que está sendo muito discutida", acrescentou.

Parte da esquerda sonha com uma volta em que Dilma retome o programa de 2010, que ela abandonou depois de se reeleger. Há dois problemas: o dinheiro acabou e o Congresso deve impedi-la de governar.

A presidente foi afastada por 71,5% dos deputados e 67,9% dos senadores. No papel, ela precisa virar poucos votos no Senado para arquivar o processo de impeachment. Na prática, teria que mudar a opinião de mais de uma centena de parlamentares para voltar com condições mínimas de aprovar seus projetos.

Ainda faltaria contabilizar a reação das ruas e o estrago que pode ser provocado pelas novas delações da Operação Lava Jato.

A rejeição a Temer pode fortalecer a tese de novas eleições, mas é preciso haver um consenso mínimo entre as forças que não querem efetivar o interino. Por enquanto, não há unidade nem no PT. Na noite de sexta, o ex-presidente Lula evitou o assunto ao discursar para uma multidão na avenida Paulista. Alguns dos principais movimentos que apoiam o "Fora Temer", como o MST, não querem ouvir falar em plebiscito.

A palavra do editor
A AMAZONA DO APOCALIPSE
O Brasil virará o país da fuzarca se os senadores forem malucos a ponto de devolver a Presidência da República a Dilma Rousseff, no exato momento em que surgem os primeiros indícios de recuperação econômica.

Ou seja, seriam jogados fora os meses de governo de Temer, mais o prazo para exoneração da gangue que veio depois e reempossamento da gangue que estava antes. 

Isto tudo para retornarmos ao impasse que imobilizou a administração entre janeiro de 2015 e abril de 2016, pois nada indica que Dilma passaria a contar com maioria na Câmara Federal para aprovar seus projetos –ainda mais tendo a pairar sobre sua cabeça a lâmina do Tribunal Superior Eleitoral, ou seja, não podendo oferecer aos deputados nenhuma garantia de permanência no Palácio do Planalto.

Para um país que permaneceu praticamente sem governo durante intermináveis 16 meses, isto equivaleria a brincarmos com fogo. A política abomina o vácuo e, nestes tristes tópicos, o vácuo costuma ser preenchido por uniformes verde-oliva.

Ademais, Dilma continua não dizendo o que faria de diferente em termos de política econômica. A anterior levou o Brasil à pior recessão da História e fez desempregados brotarem como cogumelos. 

Quem tem um mínimo de conhecimento de economia sabe muito bem que, sem o afastamento, marcharíamos para a depressão econômica e para a convulsão social. Se Dilma não afirmar em alto e bom som que mudará significativamente suas principais coordenadas, só podemos supor que continuará seguindo a mesma rota... que leva diretamente ao encontro do iceberg.

Quanto à afirmação nebulosa de que, na hipótese de os senadores pirarem, convocará um plebiscito, a pergunta é: quem ainda acredita na palavra dela depois do grotesco estelionato eleitoral de 2014?

Mesmo porque, ainda que os senadores ensandeçam, ela não poderia convocar plebiscito algum, mas, tão somente, apresentar uma proposta de referendo revocatório, que teria de ser subscrita por um terço dos deputados, aprovada por 50% mais um dos deputados, depois por 50% mais um dos senadores.

E se tal proposta não emplacasse, ela, com previsível pesar, se resignaria a continuar desgovernando o País até conduzi-lo ao caos ou até dar ensejo a um golpe de verdade e à instauração de uma nova ditadura militar. Me engana que eu gosto.

O tempo que a esquerda desperdiçar elucubrando absurdos é o tempo que poderia aproveitar de forma muito mais útil fazendo uma autocrítica profunda, depurando suas fileiras e definindo novas estratégias e táticas, pois os 13 anos e meio de hegemonia petista a conduziram a um fracasso retumbante e a um beco sem saída.

Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails