segunda-feira, 18 de abril de 2016

LEMBRANDO O HEROÍSMO DO PASSADO EM MEIO AO DESALENTO DO PRESENTE

Não poderia ser mais emblemática a data do lançamento paulista de O problema é ter medo do medo (Editora Revan, 2016, 300p), da jornalista Ana Helena Tavares, um dia depois da pior derrota sofrida pela esquerda brasileira desde a redemocratização. Será nesta 2ª feira (18), a partir das 19h, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (R. Rego Freitas, 530, sobreloja).

Trata-se de uma  coleção de depoimentos de pessoas que desempenharam algum papel na luta contra a ditadura militar, reconstituindo a História a partir de visões de quem estava no centro dos acontecimentos.

Foram 26 os entrevistados, inclusive eu. Particularmente, li com muita atenção os tópicos referentes a Alberto Dines, Hélio Bicudo e Sérgio Ricardo, com os quais me identifico mais. Mas, há de tudo um pouco e os leitores certamente tomarão conhecimento de muitos detalhes interessantes do passado.

Uma das principais preocupações de Ana Helena foi questionar o simulacro de anistia que igualou os torturados a seus algozes. 
A entrevistadora com um dos entrevistados

Trata-se de uma aberração jurídica que nos indignou muito nos últimos anos, mas a presidente Dilma Rousseff fulminou a última esperança de vermos punidas tais bestas-feras, ao ignorar olimpicamente o veredicto da Corte Interamericana de Direitos Humanos relativo à guerrilha do Araguaia, preferindo instituir uma Comissão da Verdade que desempenhou uma função nada além de propagandística.

Espero que, apeada do poder, Dilma reflita sobre se valeu a pena fazer tantas concessões ao realismo político, conciliando de forma tão chocante com os inimigos de ontem... em troca, vê-se agora, de nada! 

E o livro é ótimo para evocar uma esquerda que soube enfrentar com muita coragem e dignidade o festival de horrores dos anos de chumbo

Mas que, infelizmente, distorceu-se de forma acentuada a partir de 2003, quando passou a gerenciar o capitalismo para os capitalistas e ficou tão deslumbrada com o novo status que abdicou de organizar os trabalhadores e fazer avançar a revolução, temendo assustar ou incomodar os companheiros de fraque e cartola. Esses que agora a mandaram às urtigas.

E o pior foi que as ruas não a perdoaram.

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