quarta-feira, 27 de abril de 2016

TORTURAS DOS ANOS DE CHUMBO: "A VERDADE QUE MENTES ENTORPECIDAS NÃO QUEREM VER ESTÁ BEM DEBAIXO DO NARIZ".

Por Apollo Natali
OS DESMEMORIADOS

tempo é o assassino da verdade.

É necessário nos tornarmos farejadores da verdade o tempo todo.

Na exacerbação de ânimos que hoje acomete as massas pela derrubada da presidente Dilma, a barbárie da tortura da ditadura militar no Brasil é louvada, aqui, ali e acolá; e, estupidamente, também no Parlamento por aqueles que ainda se nutrem dos resquícios daquilo tudo.

O próprio papa Francisco, quando ainda não era papa, contemporizou com a tortura aos que combatiam a ditadura: “Eles [os resistentes] também foram violentos”, disse, na Argentina do tempo dos ditadores, o então cardeal, repetindo o mantra que ontem e hoje imanta as opiniões a respeito da barbárie.  

Eis mais uma das incontáveis mesmices desmemoriadas a voejar por aí: lamento profundamente que ele tenha sido torturado –disse-me um amigo advogado a respeito de um amigo torturado– mas também lamento que o grupo ao qual ele citou - não sei se fazia parte, espero que não, a VPR, tenha cometido sequestros (cite-se aqui o dos embaixadores da Suíça e do Japão), roubos a banco ("expropriações"), assaltos armados a inocentes, atentados terroristas a bomba a quartéis generais, tortura e assassinatos (cite-se aqui o de Mario Kozel Filho, soldado de apenas 18 anos, que teve seu corpo despedaçado por um carro-bomba lançado pelos terroristas da VPR). Tudo isso comprovado pela História. Crimes que fazem qualquer bandido sanguinário de atualmente parecer bonzinho
Bolsonaro: um patético fã de torturador.

Portanto, não eram coitadinhos, muito pelo contrário: eram guerrilheiros armados, como as FARC, por exemplo, lutando por uma ditadura comunista. Talvez por serem bandidos da pior espécie, tenham sido torturados. Nada justifica a tortura, que fique claro. Mas também nada justifica essas atitudes da VPR  - se fosse hoje, mesmo com a lei frouxa do Brasil, esse grupo e todos os seus participantes seriam presos até o fim de suas vidas.

Ouçam, caro amigo advogado e outros repetidores de argumentos desguarnecidos de memória:  há homens que se curvam às relações de domínio entre as pessoas e há defensores da humanidade que não se curvam. Esses foram, por exemplo, os abolicionistas. Esses foram, por exemplo, os torturados de 64. Esses foram os que pegaram em armas contra a tirania, numa guerra desigual. Multidões se curvaram diante dos ditadores de 64. Alguns poucos, não. Nessa guerra o lado mais forte se esbaldou em derramar sangue.

O melhor que posso fazer –escreveu Barack Obama, sentindo-se em uma emboscada no esforço de entender os problemas do mundo–  é lembrar que foram idealistas resolutos que perceberam que o poder não concederia nada sem luta. Lembrar que o debate e o controle constitucional podem muitas vezes ser um luxo dos poderosos e que algumas vezes os excêntricos, zelotes, profetas, agitadores e inflexíveis – os absolutistas, em outras palavras, foram os que lutaram por uma nova ordem.
      
Sim, a História mostra que o estraçalhai-vos uns aos outros é da condição humana.

O horror é nosso.
Ustra: nada além de um genocida.

Arrepiem-se ainda hoje aqueles turistas que contemplam caprichosos instrumentos de maus tratos demoníacos na cidade de Toledo, na Espanha, berço da Inquisição. O museu é exposto próximo à catedral de Toledo. Nesse presépio tétrico próximo ao sagrado eram imobilizados para as cerimônias de esquartejamento e outros pormenorizados ingredientes sangrentos nada menos do que seres ditos criados à imagem e semelhança de Deus. Ah, mas eles não eram cristãos. Ah, mas os combatentes da ditadura de 64 não eram coniventes com o regime estripador de 64;

Vivo a farejar a verdade sobre a tortura-64. Vivo a farejar a verdade sobre a tortura e os estripamentos da civilização-64. Insisto em aspirar fundo a verdade desse buraco negro. Sou repetitivo. Já disse e vou dizer sempre: o verdadeiro jornalista não é de direita nem de esquerda nem do centro nem do alto nem de baixo.O verdadeiro jornalista é um cão farejador. O cão guardião da espécie humana. O verdadeiro jornalista fareja a verdade.  Estou a farejar a verdade sobre a tortura-64. Nesse buraco negro busco ser um verdadeiro jornalista.

A verdade que mentes preguiçosas e entorpecidas não querem ver está bem debaixo do meu nariz, do teu nariz.  

Mamãe me bateu!

Choram os torturados, mas choram como uma criança que não entendeu porque apanhou da mãe. Mamãe me bateu!

Caros chorões, farejem a verdade, queridos. Em seus projetos de ganhar o mundo, os EUA derramaram rios de sangue. Profissionalizaram a tortura. Ensanguentaram a América Latina e outros rincões. A prática de tortura era o ar que respiravam os estrategistas da semeadura de ditaduras brutais e corruptas.

Uns poucos se rebelaram no Brasil contra o assalto global. Não os chame de terroristas, caro amigo advogado e repetidores de mesmices desmemoriadas.

Chame-os, aos que tiveram a assombrosa coragem de pegar em armas contra a tirania, de defensores da liberdade e da justiça.
       
Farejar imperdível: As flores brancas do Tio Sam (clique p/ abrir). 

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