domingo, 10 de janeiro de 2016

...E AS FLORES VENCERAM O CANHÃO!

Por Elio Gaspari
VIVA A GAROTADA DA ESCOLA FERNÃO DIAS
Na quarta-feira (6), depois de 55 dias de ocupação por dezenas de estudantes, a Escola Estadual Fernão Dias Paes estava pronta para funcionar. No lindo jardim do pátio estava a marca da ocupação: intactas, uma orquídea branca e um craveiro com umas vinte flores intocadas. 

A Fernão Dias fora a primeira escola da capital paulista a ser ocupada, em novembro, quando os educatecas do governador Geraldo Alckmin tiveram a ideia de fechar 93 colégios da rede pública, remanejando 311 mil alunos. Conseguiram a ocupação de 196 colégios. 

Antes de deixarem o prédio, os estudantes arrumaram o que puderam, limparam os banheiros e numa divertida molecagem, devolveram um saco com as chaves das salas, embaralhando algumas etiquetas. Num quadro negro, alguém deixou escrito: "Minha mãe me acha linda". A idade dessa garotada varia entre 15 e 20 anos... 

Na época em que a doutora Dilma baixou a Medida Provisória 703 aliviando a vida das empreiteiras que depenaram a Petrobras, a garotada da Fernão Dias apoiou o trabalho da perícia que inventariou os danos ocorridos durante a ocupação. Reconheceram ter danificado uma mesa e uma janela, comprometendo-se a providenciar o conserto. (Em outras escolas houve atos de vandalismo.)
"A turma da Fernão Dias ensinou humildade ao governo"

A turma da Fernão Dias, na qual estudam 1.700 jovens, ensinou humildade ao governo. A decisão de fechar escolas remanejando os alunos foi tomada pelo secretário Herman Voorwald sem discutir sequer com os pais dos alunos. Com os próprios, nem pensar.

Ocupada a Fernão Dias, Alckmin chamou a PM. Soldados cercaram a escola, o governo cortou a água por um breve período e pediu à Justiça a reintegração de posse do prédio, medida que colocaria a polícia na cena. 

Ciosos de suas autoridades, o secretário de Educação Voorwald e Alckmin disseram que só conversariam quando as escolas fossem desocupadas. Caso típico de aplicação da regra segundo a qual manda quem pode e obedece quem tem juízo. 

Perderam. O Judiciário mandou Alckmin dialogar, coisa que deveria ter feito antes de baixar o ucasse.

(Em 2013, o governador estava em Paris com o prefeito Fernando Haddad e cantava "Trem das Onze" enquanto São Paulo começava a pegar fogo com as manifestações contra um aumento de tarifas de transportes públicos. Tinham acabado de soltar o monstro da opinião pública, que está aí até hoje.)
Fim da ocupação: a escola estava pronta para funcionar.

No dia 4 de dezembro, Alckmin viu o tamanho da encrenca, suspendeu a reorganização e Voorwald desocupou o cargo de secretário de Educação. O número de estudantes que ocupavam escolas era pequeno, mas uma pesquisa do Datafolha feita em São Paulo mostrara que 61% dos entrevistados condenavam a mudança. Entre os jovens, a rejeição chegava a 69%.

Enquanto o governo paulista acreditava num mundo antigo, a garotada, ligada nas redes sociais, havia aprendido com os pinguins da rebelião estudantil chilena de 2006. Desde outubro, circulava nas redes sociais um manual de ocupação. Ele ensinava que uma vez decidida a ocupação, deveriam ser criadas comissões de alimentação, segurança, imprensa e limpeza.

O recuo de Alckmin pacificou os ânimos, mas não suspendeu todas as ocupações. A Fernão Dias continuou ocupada com uma pauta de reivindicações. Uma delas, um bicicletário, será logo atendida.

Na quarta, não restavam maiores marcas dos 55 dias de ocupação, salvo uma, logo na entrada. Os estudantes cobriram com um plástico negro a cabeça de uma grande escultura (ruinzinha) de "Fernão Dias Paes Leme, o Caçador de Esmeraldas". Junto, uma folha de papel branco informava: "Bandeirante assassino"...
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Para encerrar, a homenagem musical que o Alckmin fez muito por merecer...

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