sábado, 29 de agosto de 2015

A RECESSÃO SE APROFUNDA. O LEVY AFUNDA.

Não sou, nem jamais quis ser, economista. Mas, desde que fui incumbido, aos 18 anos, de criar um setor de Inteligência numa organização guerrilheira (absoluta novidade na esquerda brasileira!), venho me aprimorando cada vez mais na garimpagem e interpretação de informações, extraindo do noticiário o que é realmente útil e permite vislumbrar os cenários futuros. Era o que interessava à VPR e é o que interessa a jornalistas. Então, o que começou como missão acabou se revelando uma vocação.

Jamais tendo sido um schoolar, não me aprimorei em comprovação, apenas desenvolvi minha intuição. Isto faz com que pessoas de mentalidade acadêmica geralmente não levem muito a sério minhas previsões, acostumadas que estão à montagem de arcabouços pretensiosos para sustentarem aquilo no que o autor crê desde o início. No entanto, quase sempre acerto. Algum dia aprenderão a respeitar mais a sensibilidade de quem é diferente deles.

Enfim, neste sábado, 29, um editorial da Folha de S. Paulo, fazendo o balanço da situação econômica a partir de dados que acabam de sair do forno, comprova o que afirmo há mais de um ano: estamos mesmo passando por aguda recessão, que pode até evoluir para uma depressão. 

Quando eu projetava este quadro para 2015, não cometia exagero nenhum. Apenas, operava com outros vetores, como o esgotamento do petismo e a falta de uma proposta alternativa à recessão purgativa que o grande capital certamente acabaria impondo e eu sabia estar destinada ao fracasso.
Dúvida cruel: demitir-se logo ou aguardar mais um pouco?

Também devo ter sido o primeiro a, quando Joaquim Levy foi escolhido pelo Bradesco e confirmado por Dilma Rousseff como ministro da Fazenda, escrever que ele não só defendia uma ortodoxia econômica nefasta e nefanda, como não tinha sequer qualificação e credibilidade para segurar a onda num momento dramático como o atual. Dito e feito. Até os grandes empresários aos quais serve estão visivelmente decepcionados com sua performance. 

E como não estariam, se a dura realidade é esta: (*).
"A recessão brasileira é maior do que se calculava até sexta-feira (28), quando foram divulgados os números do PIB relativos ao segundo trimestre. A atividade econômica recuou 1,9%, desempenho próximo das piores estimativas; os dados do final de 2014 e do início de 2015 foram revisados para baixo. 
As previsões para o ano tendem a se tornar mais sombrias. Projetava-se regressão de 2% a 2,5% do PIB. Os novos prognósticos já ultrapassam o teto dessa banda de pessimismo, confirmando que a economia brasileira deve sofrer a maior contração desde a queda de 4,3% em 1990, no governo Fernando Collor (então no PRN).
Não há, por ora, como contradizer as avaliações mais negativas. 
O consumo das famílias declinou pelo segundo trimestre consecutivo, o que não ocorria desde 2003, na crise que marcou o final dos anos Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 
O investimento em novas instalações produtivas e em construção encolhe agora por oito trimestres consecutivos. O nível de confiança do consumidor e dos empresários está nas mínimas históricas, há estoques em demasia nas empresas e a deterioração do mercado de trabalho deve continuar pelo menos até meados de 2016".
* e não me venham com a velha cantilena de que o jornal da ditabranda é inconfiável. Nele há de tudo, desde a mais absoluta tendenciosidade até avaliações eminentemente técnicas, como esta. O que temos é de separar o joio do tribo.

2 comentários:

SF disse...

Imagino que políticas recessivas não combinam com o modelo de geração de riqueza atual.
Consumo e renda devem tornar-se universais, por isto o Levisão cairá, pois já cumpriu o seu papel.

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

E o que fazer a respeito? A resposta é tão simples quanto desafiadora. Temos de trabalhar sem afobação para recuperar a política, pela esquerda e pela via popular, numa conjugação de mobilizações de cunho democrático, como um princípio para a reconstrução da esquerda em larga escala, e não numa escala estreita como querem, por exemplo, aquelas igrejinhas trotskistas, uma melhor que a outra em relação a absolutamente tudo, cada qual a mais correta do ponto de vista da sua ortodoxia, a qua nada significa para os não iniciados.

Mobilizações de cunho democrático sobre o quê? Sobre questões de ordem prática, que envolvem a vida do trabalhador em grande medida em nível local, aqui onde ocorre a vida real do nosso grande povo: os serviços públicos, a escola pública agora à mercê da privatização e da militarização, essas coisas. Quanto a luta sindical, tornou-se tão pouco atrente quanto a própria "política". Qualquer culto neopentecostal, daqueles bem fajutos, é mais mobilizador do ponto de vista social, por mais que ainda existam bons sindicalistas no Brasil, como a Amanda Gurgel.

Alguém a esta altura viria nos lembrar de que o nosso povo nunca foi tão apático! Sim, e tem todos os motivos para tal. Mas nós devemos pensar, dizer e fazer em torno às questões que envolvem políticas públicas sobre bairros e municípios, pela base, antes de mais nada assumindo o desafio nada fácil de tratar de política A SÉRIO no meio do povo. O desastre conceitual e de credibilidade que acomete a esquerda é simplesmente grande demais, e os que nunca participaram de maracutaias, nunca pelegaram e nunca manipularam o povo podem e devem assumir o seu papel.

E para nós mesmos, o que devemos providenciar? A resposta é: FORMAÇÃO POLÍTICA, de boa qualidade, longe de qualquer Facebook, ali, em cima da pinta, sobre Economia Política, sobre o fracasso completo do "socialismo real", e sobre o Brasil. Sem formação política, nada feito em relação a nada, nada vezes nada.

Esta é a discussão sobre política de que tenho participado, para CRIAR coisas em vez de reproduzi-las. Aqui no meu pedaço eu converso com gente do PSOL, gente boa e despojada, e não me interessam um pepino as linhas majoritárias desse partido e a sua desprezível luta interna, entre correntes. O que deve nos interessar é a construção de um campo popular, democrático de verdade, tão pouco medíocre quanto possível: a política de um modo geral assumiu-se medíocre demais.

Um objetivo para muitos e muitos anos, que precisa começar pela sólida formação política de quem quiser ser de esquerda.

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