sexta-feira, 31 de julho de 2015

FESTIVAL DE LAMBANÇAS QUE ASSOLA O PALÁCIO DO PLANALTO

Calma, Dilma! Não é o impeachment chegando... ainda.
Bem que o Gilberto Gil e o Torquato neto haviam dito, na canção Domingou:
"O jornal da manhã chega cedo
Mas não traz o que eu quero saber
As notícias que leio conheço
Já sabia antes mesmo de ler
Foi exatamente a sensação que tive diante dos relatos sobre a reunião entre a presidenta Dilma Rousseff e governadores.

Reunir para nada decidir: a quintessência da chatice.
Eu não só conhecia a notícia, como havia antecipado o que aconteceria, no meu post do último domingo (26):
"Ela [Dilma] decidiu também que procurará cativar os governadores e líderes da oposição, no sentido de que abracem a causa da governabilidade e orientem suas bancadas a não abrirem mais rombos na canoa furada do ajuste do Levy. 
Haverá muita discurseira engana-trouxas e, noves fora, os parlamentares vão continuar defendendo apenas seus interesses, não os do povo ou do País. Dilma dá a impressão de que ainda crê em Papai Noel e coelhinho da Páscoa..."
O encontro só não foi totalmente inútil como eu disse que seria porque serviu... para agastar alguns governadores, distanciando-os ainda mais da comandante do Titanic.

É o que depreendo destas avaliações que me parecem mais próximas da verdade, seja por evidenciarem um espírito crítico que falta nas versões chapa branca, seja por se basearem em informações de bastidores que fazem mais sentido do que as ditas cujas. Como passei a vida inteira aprendendo que governos mentem (e conheci de perto a produção dos embustes oficiais, ao trabalhar na Coordenadoria de Imprensa do Palácio dos Bandeirantes), fico com eles:
Eis o que faltava... e continuou faltando.
"...a Presidência da República divulgou em seu blog uma ótima notícia para a inquilina do Palácio do Planalto: 
'Os governadores das cinco regiões do país (...) fizeram uma defesa clara da democracia, do Estado de Direito e da manutenção do mandato legítimo da presidenta Dilma e dos eleitos em 2014. Na ocasião, os representantes dos 27 Estados brasileiros deixaram clara sua posição de unidade em favor da estabilidade política do país'. 
Quem lê o texto fica com a impressão de que Dilma arrancara dos governadores que se reuniram com ela no Palácio da Alvorada, inclusive os de oposição, uma manifestação unânime contra o impeachment. O único problema é que essa notícia é falsa. A posição dos governadores sobre a higidez do mandato de Dilma não é unânime. E o tema não foi debatido no encontro dos executivos estaduais com a presidente". (Josias de Souza) Obs. amadorismo e primarismo elevados à enésima potência. Quem acompanha com um mínimo de atenção o noticiário político, sabe muito bem que os governadores jamais dariam apoio tão incondicional a um governo tão mal avaliado. No mínimo, adotariam uma retórica evasiva, cautelosa. Troféu Pinocchio para o escrevinhador da lorota.
Foi ele que redigiu a versão do governo sobre a reunião?
 "...a presidente afirmou que a economia voltará a crescer antes do que os pessimistas imaginam, que o crédito voltará a ser abundante, e que está preparando o país para um novo ciclo de expansão do consumo. 
Com um discurso tão irrealista como esse, o mais provável é que a encenação promovida por Dilma sirva apenas para reduzir ainda mais sua credibilidade como interlocutora, uma das razões que têm alimentado a crise que seu governo atravessa". (Ricardo Balthazar) Obs. o prognóstico presidencial só se confirmará se os pessimistas estiverem prevendo a volta do crescimento para o final de 2018. Caso o governo atual perdure até lá, tudo fará para que a melhora se dê um pouquinho antes, a tempo de aumentar as chances eleitorais da situação. 
"...já no finzinho, [Dilma] mandou o recado que os governadores não queriam ouvir: precisa da ajuda deles para barrar a pauta-bomba no Congresso. Pior: insistiu que a crise é uma 'travessia', sem assumir nenhuma responsabilidade pela instabilidade econômica, e repetiu várias vezes que ela atinge 'to-dos', assim mesmo escandido, os governos.
Dilma tem mais é de ouvir a voz das ruas
Equivaleu a dizer aos que se abalaram a Brasília: me ajudem a embalar Mateus porque não pari sozinha. 
Acontece que os governadores pensam o contrário: a crise é do governo federal, que a criou e a agravou. Se Dilma quer ajuda para o ajuste fiscal, algo que muitos estão dispostos a ofertar, deveria pedir especificamente para isso e assumir a responsabilidade que lhe tange, sem tergiversar". (Vera Magalhães) Obs. foi bem na linha do que eu também já dissera, "com sua teimosia em considerar correto e imutável tudo que fez até agora, ela não para de levantar bolas para o time adversário marcar pontos", "não adianta querer sair do buraco com mais do mesmo, pois o resultado será... mais da mesma rejeição estratosférica atual". 
E é também a conclusão da Vera Magalhães que me parece o melhor balanço do (des)encontro:
"...mais uma reunião longa, cansativa e inócua, como aquela de 2013 e tantas outras. Dilma sairá dela tão impopular e desgastada quanto entrou, os governadores voltarão para seus Estados sem recursos e perspectivas de investimentos e a pauta-bomba continuará à espreita".
Enquanto isto, a recessão do Levy se agrava e a contagem regressiva avança. Ao invés de tentar salvar o já definitivamente fracassado ajuste de inspiração neoliberal, Dilma tem mais é de curvar-se à evidência dos fatos e pensar no que fará em seguida. 

A política abomina o vácuo de poder. Quando o governante não consegue apontar um rumo para o país e oferecer esperanças ao povo, acaba sempre surgindo quem o faça. As escaladas de Hitler e Mussolini começaram assim.

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