quinta-feira, 30 de julho de 2015

DUAS OU TRÊS COISAS QUE EU SEI DELA (A IMPRENSA)

Pitoresca revelação do jornalista Mário Magalhães, no seu blogue, sobre um dos atuais candidatos à presidência da Fifa:
"No dia 12 de agosto de 1995, o dirigente número um do futebol sul-coreano, Chung Mong-joon, recepcionou por volta de dez jornalistas brasileiros em um almoço num hotel cinco estrelas de Seul. Brasil e Coreia jogariam poucas horas mais tarde na vizinha cidade de Suwon.
Enquanto não serviam a comida, e garrafas de uísque de boa procedência eram enxugadas, Chung entusiasmou-se e anunciou em inglês: 'Se a Coreia vencer hoje, cada um de vocês vai ganhar de presente um Accent'.
Trata-se de um modelo da Hyundai, a gigante automobilística que tem em Chung um dos controladores e herdeiros. Houve constrangimento de uns poucos repórteres mais escrupulosos, que recusariam o jabá, e excitação da maioria.
Durante a refeição, acompanhada de honestos vinhos franceses, o anfitrião --também deputado, vice-presidente da Fifa, à época lobista-chefe na disputa contra o Japão para sediar a Copa-2002 e hoje cotado para concorrer à Presidência da República-- radicalizou: 'Darei o carro mesmo se houver empate'.
Se beber, não prometa carros.
Quando um petardo do Dunga selou a vantagem brasileira por 1 a 0, em raro gol do volante pela seleção, um radialista traiu a ira desferindo um soco na mesa da tribuna do estádio. Adeus, Accent".
Eu também tenho histórias para contar, mas não do tipo que pudesse dar nome aos bois sem ser processado. Evito sempre divulgar integralmente algo controverso quando não posso apresentar provas ou testemunhos, pois a única postura digna para um jornalista levado ao tribunal é arguir a exceção da verdade. Sendo isto impossível, prefiro ficar longe das cascas de banana.
  
Vou, portanto, contar, os milagres sem identificar os santos:
  • certa multinacional da área de entretenimento, na década de 1980, convidava radialistas para encerrarem a árdua semana de trabalho espairecendo ao redor de uma piscina existente na sua sede. Garotas de programa eram contratadas para animar a festa e havia farta distribuição de cocaína. Sendo jornalista da imprensa escrita, nunca me convidaram nem eu aceitaria, mas quem me relatou tudo isso era de absoluta confiança;
  • uma assessoria de imprensa cuja redação eu chefiava certa vez organizou uma viagem à Europa, para jornalistas de Economia conhecerem as instalações de uma multinacional. O roteiro incluía escala desnecessária mas muito agradável em Paris. Um medalhão da área de Variedades (!) forçou a barra para ser incluído na comitiva, dando um chapéu nos seus colegas de Economia. Em Paris, ele comprou tudo que viu pela frente e botou na conta do hotel, paga pela empresa anfitriã. Na volta, o fulano não conseguiu escrever uma linha sobre a tal companhia, pois não era sua praia. Resolveu o problema entregando para publicação praticamente a íntegra do press-release que eu redigira, e que deveria servir apenas como pauta, não como texto final;
  • eu e quase todos críticos de música recebíamos das gravadoras um mundo de lançamentos que não nos interessavam e vendíamos tais discos para sebos. Certa vez o dono de um desses sebos foi pilhado com tal material (cuja venda era proibida) e denunciou à Polícia alguns dos fornecedores. Quando passei por sua loja, na maior cara de pau, ele relatou-me o ocorrido e ainda acrescentou que, se soubesse o meu nome, teria me entregado também. Um funcionário daquele sebo me contou depois o resto da história: havia divulgadores que vendiam a ele caixas fechadas, com 50 discos, que deveriam entregar aos disc-jockeys e produtores de programas musicais. Ou seja, cometiam furto e faziam dele um receptador de artigos roubados. Tinha sido para ocultar este lado mais escabroso de suas atividades que ele dedurara os críticos;

  • o maior jabaculê que me ofereceram foi uma estada de vários dias num hotel cinco estrelas. Estava colhendo dados para uma reportagem sobre a inauguração, que ocorreria dentro em pouco, e o dono, um grosseirão, foi logo me fazendo essa proposta indecente. Não lhe dei uma resposta enviesada por saber que o jornalão no qual eu trabalhava queria bajulá-lo ao máximo, sonhando com anúncios de página inteira. Desconversei, fiz a matéria que faria de qualquer maneira e nunca fui desfrutar meu brinde...

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