sábado, 28 de fevereiro de 2015

REPTO PARA DILMA: COMPOR GOVERNO DE UNIÃO NACIONAL OU RENUNCIAR.

Muito perdem os internautas ditos de esquerda ao desqualificarem, com intolerância extrema, personagens como o jornalista e sociólogo Demétrio Magnoli, que está longe de ser "um dos novos trombones da direita" (como o qualificou a revista IstoÉ), embora defenda posições questionáveis sobre o movimento estudantil e sobre as cotas raciais, p. ex.

Exigir que todos se verguem a um pensamento único é coisa dos tempos de Stalin e de Hitler. Magnoli também dá estocadas contra a direita, e algumas delas são certeiras. Por que, simplesmente, não refletirmos sobre cada uma de suas posições, aceitando algumas e divergindo das outras?

Neste sábado (28), p. ex., seu artigo A hora e a história (vide íntegra aqui) é um interessante meio-termo entre a pregação direitista do impeachment de Dilma Rousseff e a defesa incondicional de um governo que, salta aos olhos, perdeu o controle da situação e está condenado (condenando-nos) a uma lenta agonia, ou coisa pior.

Ele rechaça o impedimento ("para não transformar o Brasil num imenso Paraguai", retrocedendo "do estatuto de moderna democracia de massas ao de uma democracia oligárquica latino-americana", e também porque "na nossa democracia, a hipótese de impeachment só se aplica quando há culpa e dolo"), mas, assim como eu, percebe os perigos que corremos, sendo golpe de estado o maior deles, caso continuemos submetidos ao "dilmismo, essa mistura exótica de arrogância ideológica, incompetência e inoperância", que "o país não suportará mais quatro anos".

Como alternativa, Magnoli propõe que, ao invés de pregarem o impeachment, os descontentes lancem a Dilma o repto "Governe para todos -- ou renuncie":
"No atual estágio de deterioração de seu governo, a saída realista para Dilma é extrair as consequências do fracasso, desligando-se do lulopetismo e convidando a parcela responsável do Congresso a compor um governo transitório de união nacional. O Brasil precisa enfrentar a crise econômica, definir a moldura de regras para um novo ciclo de investimentos, restaurar a credibilidade da Petrobras, resgatar a administração pública das quadrilhas político-empresariais que a sequestraram. É um programa e tanto, mas também a plataforma de um consenso possível...
"...Se a presidente, cega e surda, prefere persistir no erro, resta apontar-lhe, e a seu vice, a alternativa da renúncia, o que abriria as portas à antecipação das eleições".
Os sectários, evidentemente, rejeitarão de imediato e no todo a proposta de Magnoli, carimbando golpismo em cima dela e tudo fazendo para que o Titanic brasileiro continue navegando a todo vapor na direção do iceberg.

Eu a vejo como uma saída civilizada para a crise, que merece reflexão. Apostas na base do tudo ou nada! quase sempre levam os jogadores à penúria. Há situações nas quais não convém flertarmos com o desastre.

7 comentários:

Anônimo disse...

governo de união nacional?? isso é formação de quadrilha na certa..não basta as que já atuam em tempo integral contra os interesses do povo brasileiro???

Unknown disse...

Nem governo de união nacional. nem renunciar. Governo de uniao nacional com quem? como os mesmos politicos golpistas odiosos que querem o poder a todo custo? com os mesmos poliicos que pregam entre linhas o terceiro turno? Não , Dilma tem que ter força cabeça fria e sensatez para governar com apoio do seu partido, com o apoio dos aliados e mostrar ao povo o que de fato esta acontecendo por traz desta campanha sordida para desestabilizar o seu governo

Unknown disse...

Dilma não precisa de governo de união nacional , Dima precisa do apoio do povo , apoio dos aliados eo realiamento ideologico do partido e suas bandeiras sociais

celsolungaretti disse...

Comentaristas,

os dois parecem acreditar que suas refutações bastam para exorcizar os fantasmas que nos rondam.

Infelizmente, não temos tal poder. Há uma realidade concreta, de um governo que se desmanchou em 2 meses e não aguentará os outros 46 nem que a vaca tussa.

E há gente como o Demétrio Magnoli, o Ricardo Kotscho e eu tentando alertar para a gravidade da crise e a necessidade de encontrarmos uma saída civilizada, antes que a direita consiga derrubar a Dilma pela via do impeachment ou do golpe de estado.

O drama caminha para o pior final possível. Se não nos compenetrarmos disto, insistindo em esconder a cabeça na areia como avestruzes, contribuiremos para o desastre.

A oratória de palanque de nada nos serve agora, temos é de botar a cabeça para funcionar. Foi o que o Magnoli fez.

Um governo de união nacional poderia, sim, desarmar a bomba-relógio. A renúncia de Dilma, idem. Temo, contudo, que as duas possibilidades sejam inviabilizadas pela falta de estatura política e grandeza pessoal de Dilma; ela, como Jango, tende a perseverar nos seus erros até o mais amargo fim.

Do meu lado, tenho advertido que é inútil o PT continuar governando para a burguesia, pois ela não o salvará. Se rejeita opções como as que o Magnoli sugere, o melhor é reassumir as bandeiras originais e marchar para o confronto como uma força de esquerda. Pois, na hora H, só os militantes de esquerda arriscarão o pescoço para evitar a derrubada de Dilma.

Enfim, a pior postura possível, para Dilma, é a atual. Parece o Felipão nos 7x1, vendo a Alemanha marcar gol após gol sem esboçar a mínima reação. Quem assumiu conscientemente as responsabilidades que Dilma e Scolari assumiram, não tem o direito de ficar prostrado no momento da adversidade.

Anônimo disse...

A questão central é a movimentação de setores reacionários para produzir um golpe orquestrado com mobilização de massas ( desde a Copa) , boicote econômico forçando a inflação e desemprego.O legislativo junto com o judiciário "forçando a barra " com o mesmo objetivo.
Qual seria o programa desse governo de uniao nacioanal ? Seria diferente de Dilma?

Esse governo teria coragem de enfrentar a crise da taxa decrescente do lucro do Capita?
Analisar que Dilma e o PT não tenham mais forças para enfrentar o ataque bem orquestrado da direita é uma coisa.Aceitar a pressão dessa reação é outra coisa.
Celso,inocência é acreditar que o problema seja a Dilma.

Cezar


Unknown disse...

caro Celso lungaretti gostaria de aproveitar o ensejo, para parabeniza-lo pelo blog sempre com temas importantes e questionamentos bastante pertinentes na politica e questoes socias . Sou seu admirador conheco boa parte da sua historia como ativista e militante de esquerda e sem duvida foi um homem importante nos tempos de resistencia a ditadura militar , tenho o seu =livro naufrago da utopia junto com a biografia de Marighella, Lamarca e Carlos prestes enfim considero todos homens valorosos na luta e defesa de bandeiras sociais. POrem voltando ao meu comentario quanto a renuncia de Dilma ou um governo de união nacional, nao concordo com uma ideia vinda por parte de um ex trotskista e agora notoriamente direitista como Demetrius Magnoli porque acredito que todo esta tempestade em copo d'agua so tem um objetivo fazer de refem o governo Dilma e inviabilizar um futuro governo Lula nas proximas e
eleiçoes

Eduardo Rodrigues Vianna disse...

A mim me parece bastante plausível que Dilma vá renunciar, mas não neste momento. E não vejo a mais mínima possibilidade de Dilma, o PT e todo o resto marcharem contra as oligarquias do Brasil como uma força de esquerda, por tantos motivos que nem me animo a enumerá-los. Creio que Magnoli tem razão.

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