segunda-feira, 28 de abril de 2014

HOLLYWOOD CONTRA O RACISMO

Os movimentos para que fossem respeitados os direitos civis dos negros estadunidenses tiveram a simpatia de Hollywood que,  nas décadas de 1950 e 1960, produziu muitos filmes contrários ao racismo ou que abordavam criticamente algumas de suas facetas. 

Era um momento de esperanças ingênuas (John Kennedy não ascendeu ao poder por acaso!), em que se acreditava numa fácil erradicação de mazelas há muito arraigadas na sociedade. Os assassinatos de Martin Luther King e Malcon X reentronizariam o princípio da realidade, mas é impossível não simpatizarmos com aqueles esforços bem intencionados... e nem sempre bem concretizados cinematograficamente.

Eis alguns desses filmes: Sementes de violência (d. Richard Brooks, 1955), Um homem tem três metros de altura (d. Martin Ritt, 1957), Acorrentados (d. Stanley Kramer, 1958), O sol é para todos (d. Robert Mulligan, 1962), Ao mestre, com carinho (d. James Clavell, 1967), Adivinhe quem vem para jantar (d. Stanley Kramer, 1967) e A libertação de L. B. Jones (d. William Wyler, 1970).

Um magnífico exemplar do filão é o filme para ver no blogue abaixo disponibilizado: No calor da noite (1967), que consegue passar sua mensagem edificante sem ranço didático nem pieguice. Começa com o sofisticado policial Virgil (Sidney Poitier) numa saia justa, pois, de passagem por uma cidadezinha da Filadelfia, é preso como suspeito do assassinato de um figurão, unicamente por ter sido o negro encontrado mais próximo do palco do crime.

Desfeita a confusão, o xerife Gillespie (Rod Steiger), que o destratara, se vê obrigado a pedir sua colaboração, pois é inexperiente em episódios de tal gravidade e os cidadãos não lhe perdoarão um fracasso, ainda mais sabendo que ele tinha um especialista à mão.

A Virgil também não agrada a ideia, mas seu superior ordena que dê uma força aos atarantados caipiras.

Então, mais do que o esclarecimento do crime, o filme vale mesmo é pelos choques de personalidade entre Gillespie e Virgil, e pela reação da comunidade preconceituosa à ascendência que o policial negro adquire (e o xerife branco, ainda que a contragosto, faz ser respeitada). 

A trilha musical de Quincy Jones é um arraso, com destaque para o tema principal, interpretado pelo inesquecível Ray Charles.

Jewison tentou repetir a dose em 1984 com A história de um soldado, cuja história tem muitos pontos de contato com No calor da noite. Como o racismo perdera a contundência, o filme, embora correto, não impactou muito. Batia em cachorro morto.

Também não funcionaram as duas sequências com Poitier novamente no papel de Virgil: Noite sem fim (d. Gordon Douglas, 1970) e A Organização (d. Don Medford, 1971). Tentaram fazer dele um personagem de fitas policiais convencionais, mas, nesta linha, perdeu de goleada para Shaft (d. Gordon Parks, 1971).

Iniciada a reprodução, ative as legendas clicando no 4º ícone da dir. p/ a esq.

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