sexta-feira, 14 de março de 2014

A MEMÓRIA É TRAIÇOEIRA

Vejam como descrevi uma grande defesa de Gilmar dos Santos Neves, na partida mais difícil que o Brasil travou para conquistar o Mundial da Fifa de 1962, contra a Espanha:
"...bola levantada na área brasileira, o goleiraço Gilmar saiu para esmurrá-la na marca do pênalti, evitando a cabeçada de um atacante adversário. Só que, com ele trombando, foi para o solo e parecia fora de ação.
O talentoso ponta-esquerda Gento apanhou o rebote na meia-lua, deu um chute certeiro por cobertura e se preparava para comemorar o gol quando Gilmar, tomando impulso com a mão e o pé esquerdos, conseguiu alçar-se na perpendicular, saltando como um golfinho, para espalmar a bola com a mão direita.
Assisti ao teipe no dia seguinte, pois ainda não havia transmissão direta pela TV. E foi a defesa mais incrível e inverossímil que vi na vida...."
Bacana, não? Só que, infelizmente para mim, não foi assim que o lance aconteceu. Vocês podem vê-lo no quarto minuto do vídeo abaixo. Uma defesa de puro reflexo do goleiraço brasileiro, dificílima e fundamental para a sorte da nossa seleção naquela Copa, mas sem pulo de golfinho nenhum.


Eu só a assistira daquela vez em que o teipe passou na TV. Meio século depois, a recordação que me ficou era exagerada, como são muitas da nossa meninice (eu estava com 11 anos).

Só agora encontrei no Youtube um vídeo com o registro desta jogada; nem no filme oficial da Fifa entrou. Então, percebi ter sido vítima, mais uma vez, da memória traiçoeira.

Paciência. Não tenho compromisso com a infalibilidade. E o lance que se formara na minha mente, maquilado pela nostalgia de tempos felizes, era ainda mais belo do que o real.

Sem querer, obedeci ao conselho que um experiente editor dá no filme O homem que matou o facínora, de John Ford, lançado, por coincidência, no mesmo ano de 1962: "Quando a lenda é maior do que o fato, publique-se a lenda".

Não tenho, contudo, tanta cara de pau. Quando constato que viajei na maionese, coloco tudo em pratos limpos, como estou fazendo agora.

5 comentários:

ismar disse...

Incrível ver como o Garrincha brincava com as defesas adversária. No gol brasileiro, ele fez de bobo dois zagueiros da Espanha, antes de cruzar a bola.

BLOG DA SANDRA PAULINO disse...

CELSO, bem sugestivo o título e quero te perguntar se sua memória tbém te atraiçoa qdo lembra o Vale do Ribeira. Assisti esse documentário onde Darci Rodrigues fala a seu respeito.https://www.youtube.com/watch?v=wklUNh5uitI
como toda história tem dois lados, mesmo decepcionada, dou a vc o direito de resposta.

celsolungaretti disse...

Fico muito feliz em dar um fim à sua decepção, Sandra.

O que você viu foi um documentário feito por um sujeito de péssimo caráter.

Quando o documentário estava sendo lançado, o Darcy já havia mudado de opinião ao meu respeito. Declarou o seguinte:

"Celso Lungaretti foi para a primeira área, não se deu bem, voltou para a cidade e nem conheceu a segunda".

Ou seja, participei da equipe precursora, mas não da fase final do trabalho, depois que a primeira área foi vetada e eu voltei para a cidade.

Pode conferir, está nesta entrevista aqui: http://zequinhabarreto.org.br/?p=715

Informei ao documentarista e o que ele fez? Nada. Omitiu-se vergonhosamente. Manteve sendo exibida uma afirmação extremamente negativa para mim, mesmo sabendo que o autor dessa afirmação reconsiderara sua posição.

Para não restar nenhuma dúvida, acrescento o veredicto final do maior historiador da luta armada, o grande companheiro Jacob Gorender:

"A respeito dessa segunda área, nenhuma responsabilidade cabe a Celso Lungaretti, que ignorava a sua existência. Sua vinculação com o episódio restringiu-se, por conseguinte, à informação sobre a área que sabia desativada, fornecida, segundo afirma, sob tortura irresistível".

Também esta você pode conferir. Está aqui:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz3012200411.htm

Viu? Já não há mais motivo para decepção nenhuma...

BLOG DA SANDRA PAULINO disse...

Celso, como eu disse, TODA HISTÓRIA TEM DOIS LADOS e desde bem cedo aprendi a ouvir dois ou mais lados. Acabei de postar comentários no documento de Leopoldo Paulino: https://www.youtube.com/watch?v=wklUNh5uitI
Gostaria q vc, qdo entrar no face, me chamasse no chat p/tratarmos de outro assunto. Abraço e obrigada pelos esclarecimentos.

celsolungaretti disse...

Sandra,

eu entro pouquíssimo no Facebook. Quando concluo um texto, há uma ferramenta no próprio blogue que me permite postá-lo lá.

E nunca gostei de chats, as raras vezes em que deles participei foi porque alguém percebeu minha presença e me chamou para a conversa. A iniciativa nunca foi minha e, para dizer a verdade, nem sei como o fazer.

Mas, escreva-me à vontade, para lungaretti@gmail.com

Só lhe peço que não superestime minha influência. Se eu pudesse mover céus e terras, meu mandado de segurança não estaria embaçado há 7 anos no STJ, 3 dos quais depois de um haver vencido o julgamento do mérito da questão por 8x0.

Na verdade, salvo circunstâncias especialíssimas como as do Caso Battisti, quem tem influência de verdade são os veículos da mídia impressa e eletrônica.

O que fazemos na internet é mais um exercício do direito de espernear.

No máximo, pode ser que contribuamos para a formação das novas gerações. É a minha esperança, o motivo de eu ainda desenvolver todo estes esforços.

Mas, realisticamente, admito que possa ser apenas uma ilusão.

Abs.

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