sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O CALVÁRIO DE UM PAI QUE SÓ CONFRATERNIZAVA COM O FILHO

Joaquim Silvério dos Reis deixou descendentes
Leio, pasmo, que um comerciante de 59 anos foi preso na noite desta quarta-feira (8) porque algum alcaguete voluntário o filmou num bar, deixando que o filho de 13 anos tomasse cerveja do seu copo.

Aí dedurou e entregou o filme, como digno descendente de Joaquim Silvério dos Reis, já que tudo se passou em Uberlândia, Minas Gerais -- estado onde começou a derrubada do presidente legítimo do Brasil naquele maldito 1º de abril de 1964, quando a mentira se apossou do País.

Lembrei-me da ótima música "Tiradentes", de Chico de Assis e Ary Toledo:
"...e havia entre os conjurados um homem danado, veja o que ele fez
e seu nome é triste sem glória, ficou na história, Silvério dos Reis
E esse feio traidor foi correndo falar com o governador,
contou tudo, fez uma tal cena que o visconde de Barbacena
soltou os milico na rua, mandou sentar pua, pegar e bater e matar e prender"
O coitado do pai teve de pagar um salário mínimo de fiança. O jovem foi entregue ao irmão mais velho, mas há até risco de ser separado da família e despachado para um abrigo. Não consigo imaginar crueldade (ou imbecilidade...) maior.

Um promotor inquisitorial, aprendiz de Torquemada, fala em suspensão de poder paterno e em pena de dois a quatro anos de detenção. Como um daqueles fanáticos da temperança do século XIX, supõe que um gole de cerveja seja "a porta de entrada para outras drogas" e que o menino possa se tornar alcoólatra.

Cricris do passado: as carolas da temperança
Parece não lhe ocorrer que, no tal abrigo, o jovem correria risco muito maior de se tornar... delinquente! Quer detonar uma família por causa de uma besteirinha.

É inacreditável o mal que causa quem exerce seu ofício sem a comezinha sensatez, substituída pela frieza de um robô.

Meu pai nunca me deu cerveja, até porque não ingeria álcool desde que teve nefrite, ainda na mocidade.

Isto não me impedia de, lá pelos 12 anos, por minha própria iniciativa, tomar copos cheios de vinho tinto, porque queria imitar os colegas da turma da esquina.

Ia no boteco e comprava, simplesmente. Ninguém ligava para essas besteirinhas naquele tempo e eu tinha jeitão de ser mais velho.

Certa vez fiquei zonzo num parque de diversões. Dei uma caminhada e passou. Não virei alcoolatra.

Se alguém chegasse numa delegacia com uma queixa tão estúpida lá por 1962, o delegado riria na sua cara e o mandaria cuidar da própria vida.

Dois anos depois, contudo, o Brasil se tornou mais ranzinza, ignorante e intolerante. As marcas ficaram até hoje --não só em  otoridades   obtusas e insensíveis tais quais as envolvidas neste caso, como no patrulhamento cricri que alguns autoritários enrustidos exercem sobre as pessoas normais, obcecados em impor a ferro e fogo seus valores.

Uma regra de ouro: viva e deixe viver. 

2 comentários:

P disse...

Espero que tenha sido o caso de um pai que estivesse entupindo o filho de cerveja e pinga, pq se foi realmente um gole, uma cerveja, é tosco.

Eu e meu irmão mais velho aprendemos a beber na rua, com 13 anos. Com meu irmão mais novo, meus pais aprenderam a lição: ensinaram a beber em casa. Assim, qdo ia pra rua não tinha gosto de novidade ficar bebendo. Funcionou. O menor não bebeu na vida inteira o que nós bebíamos em um feriado.

Menos, né? Qto exagero! Concordo... o brasileiro anda MTO ranzinza.

J.Eduardo R. de C disse...

Penso que o "buraco" é mais embaixo. A influência (sub)cultural dos EUA é hoje mais forte do que nunca. Por influência da mídia (a deles e a nossa, a qual, aliás, meramente reproduz a 1ª), até mesmo as taras puritanas estão nos sendo impostas. Experimente, por exemplo, trocar um sorriso com uma criança que não é sua em público. Pronto, é o suficiente para ser acusado de pedofilia! E para piorar temos os neopentecostais que não estão pra brincadeira. Esse novo-riquismo á moda gringa só podia dar nisso! Continuamos macaqueando o que vem de lá...

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