segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A EMANCIPAÇÃO DA HUMANIDADE E OS FANÁTICOS POR GRILHÕES

Meu comedido artigo sobre a blogueira cubana foi questionado civilizadamente por uns e da forma mais grosseira por outros --os inquisidores vocacionais que existem também na esquerda. 

No CMI, uma  figurinha carimbada  se deu ao trabalho de postá-lo para o poder atacar (vide aqui).

O tiroteio virtual me levou a explanar sobre Marx e os direitos humanos. O resultado acabou, creio, sendo interessante para os leitores em geral, e não apenas os do CMI. Julguem vocês:

MARX QUERIA IR ALÉM DOS "DIREITOS 
DO HOMEM EGOÍSTA" SOB O CAPITALISMO

Marx atribuía ao proletariado a tarefa de emancipar a humanidade como um todo por ser a classe "que organiza melhor todas as condições da existência humana SOB O PRESSUPOSTO DA LIBERDADE SOCIAL" (Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, p. 12 --o grifo é meu).

Ao longo de sua obra, várias vezes Marx apregoa "o desenvolvimento livre das individualidades", numa sociedade de indivíduos associados e não antagonicamente opostos; antevê a emancipação dos indivíduos enquanto indivíduos, "o desenvolvimento artístico, científico etc. de indivíduos emancipados e com meios criados para todos eles"; coloca como meta conduzir o homem ao "reino da liberdade, para além da necessidade", quando, libertos do jugo do trabalho alienado, quaisquer proletários poderão se tornar o que quiserem, inclusive grandes artistas.

Em Marxismo e direitos humanos, Istvan Mészáros, discípulo de Georg Lukács, desenvolve com muita propriedade o tema, chegando a qualificar a luta pelo socialismo de reivindicação do "autêntico exercício dos direitos humanos". Suas palavras parecem ter sido escritas exatamente para rebater a visão rústica e aberrante [que certos esquerdistas autoritários apresentam] de Marx:
"Longe de ser um 'determinista grosseiro' e um 'inimigo dos direitos humanos', Marx se preocupa com as condições da liberdade pessoal, entendida como um controle significativo das relações interindividuais pelos próprios indivíduos, e totalmente em oposição às condições determinadas de existência que escapam a sua vontade".
E mais:
"...a legitimação de uma alternativa socialista para a forma capitalista de intercâmbio social não pode ignorar a questão dos direitos humanos. O socialismo deve provar a sua superioridade face ao capitalismo precisamente ao superar as contradições da parcialidade, liberando as energias reprimidas da realização humana a todos os indivíduos".
Resumindo: Marx considerava os direitos do homem, conforme definidos pela revolução francesa, como INSUFICIENTES, por serem apenas "os direitos do homem egoísta" sob o capitalismo.

Mas, jamais lhe passou pela cabeça a idéia asnática de os NEGAR, defendendo uma regressão ao absolutismo. Queria, isto sim, IR ALÉM DELES, oferecendo aos homens condições de vida mais dignas de sua natureza humana e mais favoráveis ao desenvolvimento pleno de suas potencialidades.

Um comentário:

Carlos Rico disse...

É a antítese dentro da dialética,só isso.

Parabéns aos dois.O "debate" serve para alguém posicionar-se,ou reposicionar-se,claro que sempre à esquerda.

Mas confesso que na parte em que Raymundo Araujo Filho fala do que se tem em realidade - os modelos de socialismo que existem,e não posso negar meu encantamento com Cuba,sabidos todos os erros e acertos do regime e das estruturas social e econômica - acho que tem muita razão.Todavia não compartilho da ira dele transformada em resposta.

Mas,repito,adorei essa antítese dentro da dialética,esquerda discutindo com esquerda.É um bom ingrediente,nesses tempos tenebrosos,de crise do sistema,para a organização das esquerdas em torno das possibilidades de mudança.

Obs:não creio de forma alguma que as mudanças podem acontecer dentro das estruturas capitalistas.Eleição,vereador,prefeito,nada disso mudará o mundo.Só os trabalhadores o podem.

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