quarta-feira, 22 de abril de 2009

COMBATE À CORRUPÇÃO É BANDEIRA DA DIREITA

A notícia do momento é mais um escândalo de uso dos recursos públicos para finalidades pessoais de congressistas. Desta vez, a lama respingou até no Gabeira e na Luciana Genro.

É o tipo de assunto do qual mantenho sempre distância. Antes de mim, que eu me lembre, o Paulo Francis adotava a mesma posição.

Por um motivo simples: a desproporção entre o dano causado ao cidadão comum pelos ladrões de galinha da política e as atividades corriqueiras dos capitalistas é incomensurável.

O capitalismo nos acarreta:
  • emergências ecológicas como as alterações climáticas que ameaçam a própria sobrevivência da nossa espécie;
  • recessões desnecessárias como a atual (que ainda não se sabe se evoluirá ou não para depressão);
  • a condenação de parcela considerável da humanidade a vegetar em condições subumanas;
  • o desperdício criminoso do potencial ora existente para assegurar-se a cada habitante deste sofrido planeta o mínimo condizente com uma sobrevivência digna;
  • a mobilização permanente dos homens para atividades improdutivas e desnecessárias ao invés da redução da jornada de trabalho para que todos possam desenvolver-se plenamente como seres humanos;
  • etc. (muitos, muitos etcetera!).
E, se quisermos ficar no confronto simplista de números, ainda assim o peso da corrupção política no orçamento de cada família continuará sendo uma fração ínfima do custo do capitalismo.

Eis um exemplo bem didático: levantamento da Associação Nacional dos Executivos de finanças, Administração e Contabilidade, numa pesquisa de junho a agosto 2002, constatou que os gastos mensais com despesas financeiras atingiam 35,43% da renda familiar para as situadas entre 1 e 5 salários mínimos, que compram mais a prazo do que os ricos; 33,62% para famílias entre 5 e 10 salários mínimos; e 32,95% para famílias com renda familiar entre 10 e 20 salários mínimos. A média geral para todas as faixas de renda é 29,83%.

Ou seja, apenas o ágio que nos é extorquido pelos agiotas do sistema financeiro já consome ao redor de um terço da nossa renda familiar.

E a estratosférica desproporção entre o custo de fabricação de cada produto e seu preço final? Vejam uma interessante avaliação do economista Ladislau Dowbor sobre o preço de produtos como os Redoxons e Cebions:

"Por caixa, em média, esses produtos têm R$ 0,03 de ácido ascórbico. Você paga R$ 7,00 a caixa, ou seja, o custo do produto é multiplicado por cerca de 200 (multiplicado, não estou falando em 200%). E, com isso, você está tirando do mercado a vitamina C, um produto sumamente importante para a saúde de dois terços da população brasileira. No entanto, o consumidor está financiando o papelzinho dourado, a embalagem, a propaganda." (ensaio Economia da Comunicação, 2002)

Então, interessa aos defensores do capitalismo fazer a patuléia acreditar que a razão maior de seus apuros econômicos são os impostos, que estes acabam sendo em grande parte desviados pelos políticos e que isto, só isto, impediria nosso país de deslanchar.

Ademais, as intermináveis denúncias de corrupção acabam minando as esperanças do cidadão comum na transformação da realidade por meio da ação política. Se tudo não passa de um lodaçal, as pessoas de bem devem mesmo é cuidar de sua vida...

De quebra, fornecem pretextos para quarteladas, sempre que os meios de controle democráticos das massas não estão funcionando a contento.

Então, Paulo Francis dizia e eu assino embaixo: denúncias de corrupção política são bandeira da direita, que acaba sendo sempre sua beneficiária final, a despeito dos ganhos momentâneos que proporcionem à esquerda.

Esta deveria, isto sim, demonstrar que o capitalismo em si causa prejuízos imensamente maiores para o cidadão comum do que os desvios de recursos dos cofres públicos; e que a moralização da política não se dará com medidas policiais, mas sim com uma transformação maior da sociedade.

Não o faz. Desatinadamente, algumas de suas tendências reforçaram as denúncias que culminaram no suicídio de Getúlio Vargas em 1954 e as que deram pretexto à dita redentora de 1964 (que, claro, nada mudou exceto a relação dos beneficiários do butim).

Agora, o PSOL chega a acompanhar o apocalíptico delegado Protógenes Queiroz em sua tentativa de implodir o sistema, provocando uma crise que não deixaria pedra sobre pedra no Executivo, Legislativo e Judiciário.

Ingenuamente, parece crer que se beneficiará com o descrédito absoluto das instituições, sem perceber que isto criaria, isto sim, cenários favoráveis ao golpismo de extrema-direita.

Então, digo e repito: em vez de pegar carona nos temas que a imprensa burguesa prefere magnificar, cabe à esquerda definir sua própria pauta e explicá-la aos cidadãos.

A corrupção política não é nossa prioridade, mas sim o combate ao capitalismo, verdadeira raiz dos principais males que infelicitam os brasileiros.

Precisamos ter a coragem de assumir a posição correta diante do povo, ao invés de tentar combater o inimigo num jogo de cartas marcadas, travado no terreno que só a ele convém.

4 comentários:

Anônimo disse...

Assino em baixo.

Infelizmnete ainda é preciso repetir coisas que deveriam ser já banalidades pra quem se diz de esquerda.

Adendo que denúncias de corrupção servem à imprensa burguesa se apresentar como defensora da moralidade e do povo.

Falam sobre passagens aéreas e não falam nada sobre mudanças de lei que beneficiam em bilhões capitalistas que assim deixam de pagar impostos, e por aí vai...

celsolungaretti disse...

O nosso bom Luiz Brasileiro mandou este comentário para o meu e-mail pessoal, mas o lugar certo é aqui:

*****

Celso,

muito bom seu artigo; só os incautos não sabem que ninguém depena mais o cidadão do que um empresário, aquele que se escuda por trás de uma ficção chamada de pessoa jurídica; e como estes bandidos não são flagrados, todos os tratam como cidadãos de bem.

Os pequenos ladrões, da política ou assaltantes armados, são peixes pequenos frente ao empresariado com seus preços desproporcionais, abusivos, ilícitos, que violam principalmente o Código de Defesa do Consumidor, que veda a maioria das práticas rapaces do empresariado, bem como a lei da usura de 1933, que coibe as práticas lesivas dos banqueiros/agiotas oficializados, que pode mtambém ser enquadrados no CDC.

A repressão aos crimes de pobres, furto, roubo, estupro, atentado violento ao pudor, tráfico de drogas ilícitas de pequenos traficantes, funciona com muita eficiência, o que não ocorre com os crimes cometidos pelos ricos ou empresários tais como sonegação, apropriação indébita de contribuição previdenciária, descaminho. A regra é que os ilícitos cometidos por esta gente sequer é considerada como crime, mas apenas ilícitos de natureza civil, o sujeito é considerado apenas um mal pagador, um caloteiro, um espertalhão e trambiqueiro nos negócios.

Eu não acredito na remoção do capitalismo das relações sociais pois ele se apoia na ganância, uma faceta da natureza humana, tão dificil de ser afastada da condição humana quanto seja possível revogar a lei da gravidade.

Acredito que é possivel aperfeiçoar as relações sociais, a sociedade, coibindo o lado mais perverso da natureza humana, entre elas a ganância, com a efetiva aplicação das leis; mas aí é preciso um Judiciário que efetivamente funcione e decida de maneira justa, isto é, conforme as provas que se fizer dos fatos e em acordo com o direito posto nas leis.

Acredito que a elevação cultural do povo, o fim do analfabetismo, também reduz o espaço dos predadores gananciosos, que obviamente vitimam com mais facilidade os desinformados e ignorantes.

No que pertine ao Judiciário a esquerda precisa dar a devida importância ao poder de aplicar as leis, e vê-lo como um instrumento eficaz para se aperfeiçoar e reformar a sociedade. A esquerda só considera poder o Poder Executivo e o Legislativo, mas precisa mudar o foco e passar a formular uma reforma desta hidra de acordo com os interesses do povo, isto é, reformando esta caixa-preta no sentido de implementar celeridade e justiça nas decisões, o que só ocorrerá com a extensão do Júri para todos crimes e para muitas demandas cíveis.

Aprendi como advogado e como cidadão observando os fatos para concluir que os ladrões tem uma peculiaridade, a perversidade; se usam de violência para afanar, cometem a perversidade com violência; se afanam com ardis tais como os empresários, a peversidade é cometida de maneira ardilosa, por exemplo, com preços absurdos e fraudes para ilaquear a boa fé do consumidor, além de se comprazerem em vender produtos estragados e ou de qualidade duvidosa a preço de ouro.

Se a lei é para ser aplicada em qualquer um, sem distinção seja qual for, então lei neles também, jaula para os empresários rapaces também, pois não passam de bandidos travestidos de homens de bem.

Um forte abraço.

LUIZ BRASILEIRO

RLocatelli Digital disse...

Só um pequeno exemplo:
Calcula-se que Daniel Dantas remeteu ilegalmente ao exterior R$ 16 bilhões.
Isso equivale a uns 10.000 anos de passagens aéreas. E a mídia golpista se cala.

petroleiro2020 disse...

Capitalismo e Corrupção ou Capitalismo é Corrupção?

Como a economia é administrada: quem sempre ganha?

Inside Job (Trabalho Interno - Legendado) - http://www.twitvid.com/PY6MM

Grande Demais para Quebrar (Too Big to Fail)- http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=wVV6dzDOgQ0

ENRON – Os mais espertos da sala (ENRON: THE SMARTEST GUYS IN THE ROOM) - http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=2jeRzwgxg68

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