quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

SOMOS UM PAÍS SOBERANO OU UMA REPÚBLICA DAS BANANAS?

"Marinheiro, marinheiro
Quero ver você no mar
Eu também sou marinheiro
Eu também sei governar"
("Arueira", Geraldo Vandré)

Depois de desenvolver uma odiosa perseguição ao ex-militante revolucionário e hoje escritor Cesare Battisti através de dois continentes e pressionar intensamente o governo brasileiro para que o extraditasse, o Governo Berlusconi reagiu com extrema arrogância à decisão do ministro da Justiça Tarso Genro, de lhe conceder refúgio humanitário.

Ao divulgar nota pedindo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "reconsidere" a deliberação de Tarso, o Ministério de Relações Exteriores da Itália incidiu em três pecados capitais ao mesmo tempo:
* contestou uma decisão soberana do governo brasileiro;
* atingiu a autoridade do ministro Tarso Genro, já que passou por cima dele e foi diretamente a Lula para mudar sua decisão, quando o certo seria primeiramente apelar ao titular da Justiça para que reconsiderasse;
* atropelou o protocolo, já que a interlocutora da chancelaria italiana é sua congênere brasileira, enquanto o interlocutor de Lula é o presidente Giorgio Napolitano.

A nota italiana também reclama de haver Genro contrariado a avaliação do Comitê Nacional dos Refugiados, omitindo que foi uma votação dividida (3x2), bem de acordo com a existência de muitas dúvidas envolvendo o caso; e que o ministro da Justiça não é obrigado a seguir o parecer do Conare (órgão consultivo), nem pode ser recriminado por haver decidido de acordo com sua própria convicção, como tinha pleno direito de fazer.

É risível a alegação de que trancafiar o combalido e inofensivo Cesare Battisti numa masmorra seja imprescindível para "promover, no quadro da cooperação judiciária internacional, a luta contra o terrorismo". Trata-se de retórica vazia e alarmista que ofende a inteligência dos brasileiros -- aliás desconsiderada de forma contumaz pelos italianos. Salta aos olhos que Battisti não é nem nunca será Bin-Laden.

Quanto à convocação do embaixador brasileiro na Itália Adhemar Gabriel Bahadian para ouvir um pito do secretário-geral da chancelaria italiana Giampiero Massolo, pode até ser relevada como mero jogo-de-cena na linha do jus sperniandi (direito de espernear).

Mas, o Brasil não pode aceitar passivamente uma das frases da nota italiana relatando o que se passou nesse encontro: "A decisão do governo brasileiro de não conceder a extradição de Battisti é um fato desconcertante, ofensivo e de extrema gravidade".

Ofensiva não é a posição consistente e legítima que o governo brasileiro adotou, mas sim a insistência italiana em impor sua vontade a um país soberano.

Cabe ao Governo Lula colocar as coisas no seu devido lugar, fazendo a Itália entender que não está lidando com uma república das bananas, daquelas que se borram de medo das potências centrais e estão sempre prontas para acatar ultimatos velados.

3 comentários:

yasmin disse...

Esta noite, tanto o jornal da TV Globo das 20:30 como o Jornal da Cultura, da TV Cutura noticiaram a decisao do Tarso Genro, deixando claro para os telespectadores que C. Battisti era de fato um criminoso terrorista, 4 vezes assassino, sem deixar margem à dúvida sobre o passado alegado do perseguido, seja real ou não. Ao mesmo tempo, noticiou-se brevemente (na Cultura) sobre a decisão contra a reabertura do processo sobre a morte do W. Herzog, sob a alegação de que o crime já prescreveu. Para quem não acompanha este blog e sua campanha pelo asilo político do Batttisti, deve ter ficado a impressão de que o governo quer mesmo proteger os criminosos, dando asilo a um estrangeiro e esquecendo também o outro crime cometido aqui, ambos sob regimes de exceção.

Anônimo disse...

É preciso analisar com muita calma essa situação. O Governo Italiano ao interpelar diretamente o presidente Lula, o fez, com a liberdade que tem de poder conversar e dialogar com um colega. Nas empresas comerciais isto tem sido praxe hoje em dia com a facilidade da comunicação e com a queda natural de algumas formalidades comerciais. Aquele famoso e angigo refrão, "sem mais, firmamo-nos, atenciosamente" já nem fecha mais o texto final de cartas comerciais. Dia desses eu queria resolver um problema serio e urgente e dirigi-me diretamente ao diretor superintende da empresa que represento e o assunto foi resolvido da maneira como eu esperava. Se eu estivesse seguido a hierarquia vigente, muito possivelmente, ou no máximo, um meio termo. Diretoria é diretoria, segundo escalão é pra linha de frente. Quantas e quantas vezes uma secretária de algum empresário me solicita alguma coisa, eu nego e ainda dou um esculacho, mas em seguida ele liga, o tratamento é outro e eu acabo cedendo em alguns casos. Isso chama-se politica de influencia. Nada a ver com bananas, yes?

Anônimo disse...

Que comentário bobo esse último. Onde já se viu comparar uma situação dessa com realidade de empresa? Ignorância completa. Estupidez.

Cada coisa que se lê por aí.

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