segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

PEÕES DE OBRAS, OS ESCRAVOS MODERNOS

“Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
(...) E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego”
(“Construção”, Chico Buarque)

Os peões da construção civil têm de trabalhar em situações que sabem ser perigosas, contraem parasitas bebendo água impura nos canteiros de obras e sofrem distúrbios auditivos em razão dos ruídos excessivamente altos a que são expostos sem proteção adequada.

É o que se depreende de uma pesquisa realizada com 2.428 trabalhadores do setor, em 41 empreendimentos da Grande São Paulo, Baixada Santista e Vale do Paraíba.

Eis algumas das constatações:
· 54,7% apresentam parasitas (protozoários e vermes);
· 3,4% têm perda auditiva relacionada ao trabalho;
· 24,3% sofrem irritação quando expostos a sons intensos;
· 11,5% relatam dores de ouvido;
· 43,2% dizem ter perda de equilíbrio (sintoma de labirintite);
· 43,4% precisam de intervenção médica para aliviar dores assim que possível e 25,5%, imediatamente;
· 38,6% acreditam que correm perigo sempre ou com freqüência, na fase de estrutura e alvenaria da obra.

Tais dados constam do Manual de Segurança e Saúde no Trabalho: Indústria da Construção Civil - Edificações, que será lançado hoje na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

O capitalismo continua tão selvagem para os peões de obras no Brasil como o era para as crianças que trabalhavam até 12 horas diárias nas minas de carvão européias.

Haruo Ishikawa, um dos vice-presidentes do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo, não hesitou em culpar esses escravos modernos pela condição subumana a que foram reduzidos: “Os médicos têm orientado em relação ao banho e às necessidades fisiológicas -- lavar as mãos, p. ex.".

Não disse uma palavra sobre a água imunda que são obrigados a beber nos canteiros de obras, por falta de outra.

Já Antônio Pereira, superintendente do Ministério do Trabalho e Emprego, diz que a culpa por esses números "graves" é também da "falta de planejamento das empresas".

Discordo. O planejamento das empresas é perfeito para obterem o que almejam, a maximização dos lucros, pouco lhes importando os danos criminosamente infligidos à saúde e à vida dos trabalhadores.

Um comentário:

Luiz Claudio C. Souza disse...

Não apenas os peões do setor da construção civil, mas também os motoristas de ônibus também me chamam muito a atenção. Eles trabalham no verão com um motor de caminhão ao lado da perna. O transito caótico e os horários e outras exigencia que eles são obrigados a cumprir já seria razão suficiente para levá-los a loucura em pouquíssimo tempo. Somando-se isso ao motor de caminhão muitos decibéis acima do suportável e o calor gerado temos o caos. Este é só um dos muitos mistérios do setor. O outro é que os onibus não são onibus e sim caminhòes com carrocerias adaptadas. Mais uma vez o caos, pois o "onibus" mais adequado a atletas e surfistas, ignora as crianças, os idosos e os deficientes em sua concepção. Isto ocorre a pelo menos uns quarenta anos e ninguem diz nada.

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